O domínio fluviomarinho compreende os estuários (regiões com importantes
correntes de marés) e os deltas (regiões com fracas correntes de marés e com
importantes aportes fluviais) (POPP, 2014).
O
sistema deltaico é composto pelo conjunto de subambientes que constituem o
ambiente deltaico. Sendo que o delta é uma terminação de um curso
d'água dentro do mar ou de um lago, que se divide em vários braços em uma zona
onde a sedimentação é importante. Uma definição mais
genérica é citada em Suguio (2003) e provém de Wright (1978) que define deltas
como acumulações costeiras subaquosas e subaéreas, construídas a partir de
sedimentos trazidos por um rio, adjacentes ou em estreita proximidade com o
mesmo, incluindo os depósitos reafeiçoados secundariamente pelos diversos
agentes da bacia receptora.
Atualmente
o conceito de delta é utilizado principalmente num sentido amplo para designar
associações e fácies sedimentares, que tem em comum apenas o fato de constituírem
zonas de progradação vinculadas a um curso fluvial, tendo sido originalmente
construídas a partir de sedimentos carreados por esse rio (SUGUIO, 2003).
Em locais onde as correntes de marés movem-se marés em direção ao
continente e ao mar, elas redistribuem os sedimentos deltaicos em barras
alongadas paralelas a direção delas mesmas, na maioria desses lugares em ângulos
retos em relação à praia (POMEROL et al., 2013).
Em outros locais, a maré é forte a suficiente para impedir a formação de
um delta. Em vez disso, o sedimento do rio levado para o fundo do mar é
dispersado ao longo da linha de costa, como praias e barras, e é transportado
para as águas profundas afora (POMEROL et al., 2013).
Além
disso, para que a carga sedimentar carreada por um rio se acumule junto a sua
foz e resulte na formação de um delta é necessário, que a energia do meio
receptor não atinja o nível suficiente para dispersá-lo ao longo da costa. A
energia do rio, expressa principalmente pela velocidade das suas águas, deverá
em geral ser suficiente para manter um ou mais canais escavados através dos
seus próprios depósitos (SUGIO, 2013).
Vários são os fatores que condicionam os processos de sedimentação deltaica,
os quais mudam muito, dando em consequência origem a diferentes tipos de
deltas. Alguns ocorrem ao longo de costas com amplitude de maré desprezível e/ou
energia de onda mínima, enquanto outros são originados sob condições de grande
amplitude de marés e/ou intensa atividade de ondas (SUGIO, 2013).
Diversos autores discutiram sobre os processos costeiros e os seus
efeitos e significados na sedimentação deltaica, colocando entre os agentes
mais importantes o clima, flutuação da descarga fluvial e da carga sedimentar,
processos associados à desembocadura fluvial, energia das ondas, regimes de
marés, ventos, correntes litorâneas, declividade da plataforma, tectônica e
geometria da bacia receptora (SUGUIO, 2003) Embora esses fatores tenham alguma
influência, somente poucos processos atuam mais decisivamente na formação dos
diferentes tipos de deltas, como por exemplo:
Regime fluvial -As diferenças de padrão de canaldos regimes fluviais,
comumente afetam a granulometria e a seleção das partículas transportadas.
Desse modo, descargas extremamente erráticas tendem a transportar e depositar
sedimentos mais grossos e pobremente selecionados, enquanto rios com descargas
mais homogêneas depositam sedimentos mais finos e mais bem selecionados.O volume
de sedimentos supridos, que também depende das variações de descarga e da
composição litológica das rochas matrizes da bacia de drenagem, é também
importante na taxa e no padrão de crescimentodos deltas (SUGUIO, 2003)
Processos costeiros - Os processos costeiros compreendem principalmente
os efeitos das ondas e marés, além de correntes litorâneas. Quando os rios lançam
os sedimentos em ambientes com grandes amplitudes de marés, elas passam a
desempenhar um papel importante na determinação características dos corpos
arenosos deltaicos. Nas desembocaduras dos rios submetidos a macro maréssão
encontradas fortes entro correntes bidirecionais que dão origem a cordões
arenosos subaquosos. Em geral, os deltas formados nessas áreas exibem
sedimentos com feições típicas de planícies de marés e diferem das formadas sob
condições de micro (SUGUIO, 2003).
Fatores climáticos -O tipo de clima determina a intensidade de atuação
dos processos físicos químicos e biológicos de um sistema fluvial. Em bacias
hidrográficas situadas em áreas tropicais verifica-se intensa decomposição
química das rochas, formando-se espesso manto de intemperismo, que é protegido
da erosão pela densa cobertura vegetal, em geral existente nessas áreas. Os
rios transportarão principalmente materiais solúveis e partículas finas em
suspensão e poucos sedimentos grossos. Por outro lado, quando o clima da bacia
de drenagem for árido, a vegetação é escassa e o regime fluvial é irregular
(SUGUIO, 2003).
Scott
& Fisher (1969)apud Suguio (2003)
adotaram, especificamente para os deltas marinhos, uma classificação baseada em
conceitos genéticos (natureza e intensidade dos agentes geológicos oceânicos) e
na distribuição de fácies nas porções subaéreas. Desse modo, estabeleceram dois
grandes grupos: deltas construtivos (com predominância de fácies fluviais) e
deltas destrutivos (com predominância de fácies marinhas). O primeiro grupo foi
subdividido em dois subtipos: lobados e alongados; o segundo grupo foi
subdividido, conforme a predominância das ondas ou das marés em subtipo em
cúspide (ou cuspidado) e em franja (ou franjado) respectivamente.
O tipo
delta construtivo é formado por um canal distribuitário, dique marginal e
rompimento de dique; planície deltaica (pântano, lagoa e baía
interdistributária); frente deltaica, inclusive barra de desembocadura e
lençóis de areia e prodelta (POPP, 20014).
Os deltas
destrutivos dominados por marés são compostos pelo canal fluvial, barra arenosa
de maré, planície deltaica (sem maré), plataforma de canal de maré, planície deltaica
de maré é canal de maré (POPP, 20014).
Galloway
(1975) apud Pomerol et al. (2013)apresentou
uma classificação modificada de Scott & Fisher (1969), baseada na ação
recíproca dos processos marinhos e no papel desempenhados por esses processos
na construção deltaica, propondo uma grande variedade de deltas, que foram
agrupadas em um diagrama triangulas segundo três membros extremos:
Com predominância de
maré, que induz embocaduras abertas do tipo estuário com importantes planícies
de maré (tidal flats) e barras
arenosas retilíneas na embocadura (tidal
bars).
Com predominância dos
efeitos de onda, que origina uma deriva litorânea de uma parte à outra da
embocadura. Edificam-se, então, cordões litorâneos paralelos à costa que
aprisionam lagoas e lagunas.
Com predominância da
dinâmica fluvial, que gera um delta digitado (tipo pé de pássaro, ou bird foot) com desenvolvimento de canais
em leque, bordados por diques marginais.
Em suma, o delta resulta quase que
somente da atividade fluvial somente quando a bacia receptora apresenta baixos
níveis de energia. Em contrapartida, quando os níveis de energia da bacia
receptora são elevados, a acumulação deltaica resulta da sedimentação marinha
devida a ondas e marés, que retrabalham os sedimentos fluviais e constroem o
arcabouço deltaico (PRESS et al. 2006).
Apesar de haver divergências o
conceito clássico de delta admite uma subdivisão morfológica,
de montante (parte proximal) a jusante (parte distal) os seguintes depósitos(POMEROL
et al. 2013):
Planície deltaica:uma planície subaérea, que se detém na linha de costa, onde
se prolonga pela zona intermaré. Constitui a superfíciesub-horizontal
adjacente à desembocadura da corrente fluvial. Os principais depósitos sedimentares
associados à planície deltaica são: depósitos de preenchimento de canais,
depósitos de diques naturais, depósitos de planície interdistributária e
depósitos de pântanos e lagos
Frentedeltaica: uma frente deltaica, zona de borda pouco profunda, que pode
alcançar até 50 km mar adentro. Esta província forma a área frontal de
deposição ativa do delta que avança sobre os depósitos de prodelta. Aqui são
depositados silte e areias finas fornecidos pelos principais distributários
deltaicos. O conjunto desses depósitos recebe o nome de depósitos frontais. Os
principais depósitos associados à frente deltaica são: depósitos de barra
distal, depósitos de barra de desembocadura de distributários, depósitos de
canaldistributários submersos e depósitos de dique natural submerso.
Prodelta:um
talude deltaico com uma inclinação de 1 a 10° que se conecta à plataforma
continental.A sedimentaçãoprodeltaica é essencialmente argilosa e
representa a parte mais avançada de deposição de sedimentos carreados por
um rio para uma bacia receptora. Duas feições geológicas diretamente associadas
à deposição prodeltaica argilosa são as planícies de lama (mudflats) e os
diápiros de lama (mudlumps).
Em corte, o delta é constituído de(POMEROL et al. 2013):
Topsets com depósitos de pântano argilosos e de turfas na sua parte
subaérea, e de siltes e argilas da frente do delta associados a depósitos de
canais e de diques marginais na sua parte subaquática;
Foresets constituídos pelas areias e argilas do prodelta, e de areias
grossas na desembocadura dos canais distributários;
Bottomsets que correspondem à decantação das argilas.
REFERÊNCIAS
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Editora Cambridge: New York, 2009. 600p.
NICHOLS, G. Sedimentology and Stratigraphy. 2ª ed.
Editora Wiley-Blackwell: Reino Unido, 2009. 419p.
POMEROL,
C.; LAGABRIELLE, Y.; RENARD, M.;
GUILLOT, S. Princípios de Geologia: técnicas, modelos e teorias. Tradução:
Maria Lidia Vignol Lelarge e Pascal François Camille Lelarge. 14ª ed. Porto
Alegre. Bookman, 2013. 1017 p.
POPP, J.H. Geologia Geral. 6ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2014. 324 p.
PRESS, F, SIEVER R.,GROTZINGER, J. & JORDAN, T. H., 2006. Para Entender a
Terra. Tradução
Rualdo Menegat, 4 ed. – Porto Alegre: Bookman.
SGARBI,
G. N. C. Petrografia macroscópica de
rochas ígneas, sedimentares e metamórficas. 2ª Ed. Belo Horizonte. Editora
da UFMG, 2012. 632 p.
SUGUIO,
K. Geologia Sedimentar. 1ª ed. Editora
Blucher: São Paulo, 2003. 400p.
TEIXEIRA, W; FAIRCHILD, T.R; TOLEDO,
M.C; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. 2ed. São Paulo, 2009.
TUCKER, M. E. Sedimentary Petrology: an introduction to
the origin of sedimentary rocks. 3ª ed. Editora Blackweel Publishing: Reino
Unido, 2001. 261p.
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