segunda-feira, 13 de maio de 2019

SUBAMBIENTE DELTAICO DOMINADO PELO FLUVIAL E POR MARÉ



O domínio fluviomarinho compreende os estuários (regiões com importantes correntes de marés) e os deltas (regiões com fracas correntes de marés e com importantes aportes fluviais) (POPP, 2014).
O sistema deltaico é composto pelo conjunto de subambientes que constituem o ambiente deltaico. Sendo que o delta é uma terminação de um curso d'água dentro do mar ou de um lago, que se divide em vários braços em uma zona onde a sedimentação é importante. Uma definição mais genérica é citada em Suguio (2003) e provém de Wright (1978) que define deltas como acumulações costeiras subaquosas e subaéreas, construídas a partir de sedimentos trazidos por um rio, adjacentes ou em estreita proximidade com o mesmo, incluindo os depósitos reafeiçoados secundariamente pelos diversos agentes da bacia receptora.
Atualmente o conceito de delta é utilizado principalmente num sentido amplo para designar associações e fácies sedimentares, que tem em comum apenas o fato de constituírem zonas de progradação vinculadas a um curso fluvial, tendo sido originalmente construídas a partir de sedimentos carreados por esse rio (SUGUIO, 2003).
Em locais onde as correntes de marés movem-se marés em direção ao continente e ao mar, elas redistribuem os sedimentos deltaicos em barras alongadas paralelas a direção delas mesmas, na maioria desses lugares em ângulos retos em relação à praia (POMEROL et al., 2013).
Em outros locais, a maré é forte a suficiente para impedir a formação de um delta. Em vez disso, o sedimento do rio levado para o fundo do mar é dispersado ao longo da linha de costa, como praias e barras, e é transportado para as águas profundas afora (POMEROL et al., 2013).
Além disso, para que a carga sedimentar carreada por um rio se acumule junto a sua foz e resulte na formação de um delta é necessário, que a energia do meio receptor não atinja o nível suficiente para dispersá-lo ao longo da costa. A energia do rio, expressa principalmente pela velocidade das suas águas, deverá em geral ser suficiente para manter um ou mais canais escavados através dos seus próprios depósitos (SUGIO, 2013).
Vários são os fatores que condicionam os processos de sedimentação deltaica, os quais mudam muito, dando em consequência origem a diferentes tipos de deltas. Alguns ocorrem ao longo de costas com amplitude de maré desprezível e/ou energia de onda mínima, enquanto outros são originados sob condições de grande amplitude de marés e/ou intensa atividade de ondas (SUGIO, 2013).
Diversos autores discutiram sobre os processos costeiros e os seus efeitos e significados na sedimentação deltaica, colocando entre os agentes mais importantes o clima, flutuação da descarga fluvial e da carga sedimentar, processos associados à desembocadura fluvial, energia das ondas, regimes de marés, ventos, correntes litorâneas, declividade da plataforma, tectônica e geometria da bacia receptora (SUGUIO, 2003) Embora esses fatores tenham alguma influência, somente poucos processos atuam mais decisivamente na formação dos diferentes tipos de deltas, como por exemplo:

Regime fluvial -As diferenças de padrão de canaldos regimes fluviais, comumente afetam a granulometria e a seleção das partículas transportadas. Desse modo, descargas extremamente erráticas tendem a transportar e depositar sedimentos mais grossos e pobremente selecionados, enquanto rios com descargas mais homogêneas depositam sedimentos mais finos e mais bem selecionados.O volume de sedimentos supridos, que também depende das variações de descarga e da composição litológica das rochas matrizes da bacia de drenagem, é também importante na taxa e no padrão de crescimentodos deltas (SUGUIO, 2003)

Processos costeiros - Os processos costeiros compreendem principalmente os efeitos das ondas e marés, além de correntes litorâneas. Quando os rios lançam os sedimentos em ambientes com grandes amplitudes de marés, elas passam a desempenhar um papel importante na determinação características dos corpos arenosos deltaicos. Nas desembocaduras dos rios submetidos a macro maréssão encontradas fortes entro correntes bidirecionais que dão origem a cordões arenosos subaquosos. Em geral, os deltas formados nessas áreas exibem sedimentos com feições típicas de planícies de marés e diferem das formadas sob condições de micro (SUGUIO, 2003).

Fatores climáticos -O tipo de clima determina a intensidade de atuação dos processos físicos químicos e biológicos de um sistema fluvial. Em bacias hidrográficas situadas em áreas tropicais verifica-se intensa decomposição química das rochas, formando-se espesso manto de intemperismo, que é protegido da erosão pela densa cobertura vegetal, em geral existente nessas áreas. Os rios transportarão principalmente materiais solúveis e partículas finas em suspensão e poucos sedimentos grossos. Por outro lado, quando o clima da bacia de drenagem for árido, a vegetação é escassa e o regime fluvial é irregular (SUGUIO, 2003).

Scott & Fisher (1969)apud Suguio (2003) adotaram, especificamente para os deltas marinhos, uma classificação baseada em conceitos genéticos (natureza e intensidade dos agentes geológicos oceânicos) e na distribuição de fácies nas porções subaéreas. Desse modo, estabeleceram dois grandes grupos: deltas construtivos (com predominância de fácies fluviais) e deltas destrutivos (com predominância de fácies marinhas). O primeiro grupo foi subdividido em dois subtipos: lobados e alongados; o segundo grupo foi subdividido, conforme a predominância das ondas ou das marés em subtipo em cúspide (ou cuspidado) e em franja (ou franjado) respectivamente.
O tipo delta construtivo é formado por um canal distribuitário, dique marginal e rompimento de dique; planície deltaica (pântano, lagoa e baía interdistributária); frente deltaica, inclusive barra de desembocadura e lençóis de areia e prodelta (POPP, 20014).
Os deltas destrutivos dominados por marés são compostos pelo canal fluvial, barra arenosa de maré, planície deltaica (sem maré), plataforma de canal de maré, planície deltaica de maré é canal de maré (POPP, 20014).
Galloway (1975) apud Pomerol et al. (2013)apresentou uma classificação modificada de Scott & Fisher (1969), baseada na ação recíproca dos processos marinhos e no papel desempenhados por esses processos na construção deltaica, propondo uma grande variedade de deltas, que foram agrupadas em um diagrama triangulas segundo três membros extremos:

Com predominância de maré, que induz embocaduras abertas do tipo estuário com importantes planícies de maré (tidal flats) e barras arenosas retilíneas na embocadura (tidal bars).

Com predominância dos efeitos de onda, que origina uma deriva litorânea de uma parte à outra da embocadura. Edificam-se, então, cordões litorâneos paralelos à costa que aprisionam lagoas e lagunas.

Com predominância da dinâmica fluvial, que gera um delta digitado (tipo pé de pássaro, ou bird foot) com desenvolvimento de canais em leque, bordados por diques marginais.

          Em suma, o delta resulta quase que somente da atividade fluvial somente quando a bacia receptora apresenta baixos níveis de energia. Em contrapartida, quando os níveis de energia da bacia receptora são elevados, a acumulação deltaica resulta da sedimentação marinha devida a ondas e marés, que retrabalham os sedimentos fluviais e constroem o arcabouço deltaico (PRESS et al. 2006).
          Apesar de haver divergências o conceito clássico de delta admite uma subdivisão morfológica, de montante (parte proximal) a jusante (parte distal) os seguintes depósitos(POMEROL et al. 2013):

Planície deltaica:uma planície subaérea, que se detém na linha de costa, onde se prolonga pela zona intermaré. Constitui a superfíciesub-horizontal adjacente à desembocadura da corrente fluvial. Os principais depósitos sedimentares associados à planície deltaica são: depósitos de preenchimento de canais, depósitos de diques naturais, depósitos de planície interdistributária e depósitos de pântanos e lagos

Frentedeltaica: uma frente deltaica, zona de borda pouco profunda, que pode alcançar até 50 km mar adentro. Esta província forma a área frontal de deposição ativa do delta que avança sobre os depósitos de prodelta. Aqui são depositados silte e areias finas fornecidos pelos principais distributários deltaicos. O conjunto desses depósitos recebe o nome de depósitos frontais. Os principais depósitos associados à frente deltaica são: depósitos de barra distal, depósitos de barra de desembocadura de distributários, depósitos de canaldistributários submersos e depósitos de dique natural submerso.

Prodelta:um talude deltaico com uma inclinação de 1 a 10° que se conecta à plataforma continental.A sedimentaçãoprodeltaica é essencialmente argilosa e representa a parte mais avançada de deposição de sedimentos carreados por um rio para uma bacia receptora. Duas feições geológicas diretamente associadas à deposição prodeltaica argilosa são as planícies de lama (mudflats) e os diápiros de lama (mudlumps).

Em corte, o delta é constituído de(POMEROL et al. 2013):

Topsets com depósitos de pântano argilosos e de turfas na sua parte subaérea, e de siltes e argilas da frente do delta associados a depósitos de canais e de diques marginais na sua parte subaquática; 

Foresets constituídos pelas areias e argilas do prodelta, e de areias grossas na desembocadura dos canais distributários; 

Bottomsets que correspondem à decantação das argilas.


REFERÊNCIAS


BOGGS, S. Petrology of Sedimentary Rocks. 2ª ed. Editora Cambridge: New York,  2009. 600p.


NICHOLS, G. Sedimentology and Stratigraphy. 2ª ed. Editora Wiley-Blackwell: Reino Unido, 2009. 419p.


POMEROL, C.; LAGABRIELLE, Y.; RENARD, M.; GUILLOT, S. Princípios de Geologia: técnicas, modelos e teorias. Tradução: Maria Lidia Vignol Lelarge e Pascal François Camille Lelarge. 14ª ed. Porto Alegre. Bookman, 2013. 1017 p.


POPP, J.H. Geologia Geral. 6ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. 324 p.


PRESS, F, SIEVER R.,GROTZINGER, J. & JORDAN, T. H., 2006. Para Entender a Terra. Tradução Rualdo Menegat, 4 ed. – Porto Alegre: Bookman.


SGARBI, G. N. C. Petrografia macroscópica de rochas ígneas, sedimentares e metamórficas. 2ª Ed. Belo Horizonte. Editora da UFMG, 2012. 632 p.


SUGUIO, K. Geologia Sedimentar. 1ª ed. Editora Blucher: São Paulo, 2003. 400p.


TEIXEIRA, W; FAIRCHILD, T.R; TOLEDO, M.C; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. 2ed. São Paulo, 2009.


TUCKER, M. E. Sedimentary Petrology: an introduction to the origin of sedimentary rocks. 3ª ed. Editora Blackweel Publishing: Reino Unido, 2001. 261p.

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