segunda-feira, 13 de maio de 2019

PARTIÇÃO DA ENERGIA SÍSMICA NOS MEIOS GEOLÓGICOS




Na interface entre duas camadas rochosas existe normalmente uma variação de propagação das ondas sísmicas resultante da diferença das propriedades físicas do material que compõem essas duas camadas. Nesta interface a energia da rocha sísmica incidente é dividida numa fração transmitida e noutra refletida. As amplitudes de cada uma das ondas refletidas e transmitidas, P e S (RPP, TPP, RPS e TPS), são conhecidas como coeficientes de reflexão e coeficientes de transmissão.
O ângulo de incidência θ1 é igual ao ângulo de reflexão e o ângulo θ2 é o ângulo de transmissão da onda no meio 2. Dada que as velocidades no meio 1 e 2 são respectivamente V1 e V2 a lei de Snell mostra a relação entre as velocidades das camadas e os ângulos de refração e reflexão.
Quando uma onda P encontra uma mudança abrupta nas propriedades elásticas, como quando atinge uma interface separando dois meios diferentes, a energia é particionada, resultando em quatro ondas: ondas P e S refletidas, e P e S refratadas, cujas direções de propagação são dadas pela Lei de Snell, sen i1 sen i sen j sen j p onde: p é o parâmetro do raio; e i1 , i2 , j1 e j2 são, respectivamente, os ângulos de incidência (e de reflexão da onda P), refração da onda P, reflexão da onda S e refração da onda S. Onde o  ângulo θ2 é chamado de ângulo de refração e a equação descrita acima é chamada de lei da refração ou lei de Snell. Esse processo de partição da energia se repete a cada nova transição entre rochas, até que a energia da onda propagada se disperse e não mais retorne a superfície.
Os meios que as ondas percorrem são classificados como homogêneos ou heterogêneos e isotrópicos ou anisotrópicos. Um meio dito homogêneo tem a mesma velocidade de propagação da onda na mesma direção, entretanto no meio heterogêneo a velocidade varia na mesma direção.
Já os meios isotrópicos consideram que as propriedades físicas do meio são iguais em qualquer direção que forem medidas. Anisotropia é um termo que denota a variação das propriedades físicas dependendo da direção em que elas são medidas.
Em virtude da variedade composicional, de textura (forma de grãos e graus de seleção) , de porosidade e de fluidos nos poros, as rochas diferem quanto a seus módulos elásticos e densidades, e, portanto quanto as suas velocidades sísmicas.
Foi Knott em 1899 e, mais tarde Zoeppritz em 1919, que deduziram estas equações para a reflexão de ondas de corte e de compressão numa fronteira como uma função das densidades e das velocidades das camadas em contacto (Oladapo, 2013). O produto da densidade (ρ) com a velocidade sísmica (V) para cada camada é conhecido com impedância acústica (Z). De um modo mais simples, quanto mais consolidada for uma rocha, maior será a sua impedância acústica. Para que a energia se propague de um modo eficiente através de uma fronteira entre duas camadas, a impedância acústica deverá ser pequena (Reynolds, 1997).

FATORES QUE INFLUENCIAM NAS VELOCIDADES SÍSMICAS

Os parâmetros de Lamé e a densidade são suficientes para caracterizar as propriedades físicas dos meios homogêneos, isotrópicos e elásticos. A premissa de homogeneidade é bastante difícil de ser aplicada em ambientes sedimentares reais porque as rochas são formadas por diferentes minerais, com grãos de diferentes tamanhos, irregulares na sua geometria e distribuição, causando com isso espaços vazios de diferentes formas e conexões, que são preenchidos por fluídos diversos.
A propagação das ondas elásticas P e S neste tipo de ambiente é perturbada por todos esses fatores acima citados, o que ocasiona variações de velocidade, conforme discutido a seguir. Algumas propriedades físicas da rocha como: a litologia, o tipo fluído, a porosidade, a permeabilidade, a pressão de confinamento, a forma do poro, a temperatura, a densidade e o tipo de trapeamento são importantes para o conhecimento e aproveitamento dos reservatórios de petróleo e gás.

Litologia
O conteúdo mineralógico da rocha afeta a velocidade de uma forma direta através dos módulos de cisalhamento e bulk da matriz rochosa. É também a mineralogia que indiretamente controla a cimentação e a forma do poro. O tipo de cimento pode gerar um maior ou menor aumento na velocidade compressional. Cimentos carbonáticos e quartzosos originam velocidades mais elevadas que cimentos argiloso. Rochas carbonáticas, por serem mais solúveis, podem apresentar estruturas de poros mais complexas, o que não é bem escrito pelo modelo convencional de velocidades. A relação entre as velocidades compressionais e cisalhantes contem informações sobre a litologia e sobre as características do reservatório. Essa correlação foi apresentada por Pickett (1963) que, baseado em amostras de rochas consolidadas de diferentes litologias e porosidades, concluiu que a razão Vp/Vs para areias limpas está entre 1,6 e 1,7, para dolomitas 1,8 e calcários 1,9.
A presença de argila na rocha é, depois da porosidade, o fator que mais influencia a resposta das velocidades sísmicas. O conteúdo de argila causa uma diminuição significativa nas velocidades.

Porosidade
A porosidade secundária é a porosidade adicional resultado de ação química (diagênese), especialmente associadas a fissuras, vugs e ao processo de dolomitização. Já a porosidade efetiva é a porosidade associada a presença de fluidos livres que possam ser produzidos, excluindo-se poros não conectados ou os que contenham argilas disseminadas. Observa-se experimentalmente que para um aumento na porosidade tem-se um decréscimo na velocidade de propagação das ondas sísmicas na rocha. 

Densidade
À primeira vista a equação da velocidade da onda P sugere que a velocidade varia inversamente com o aumento da densidade da rocha. No entanto, Gardner (1974) mostrou que a velocidade cresce com o aumento da densidade para todos os tipos de rocha. Isso se deve ao fato de que o modulo total (λ + 2  µ) cresce muito mais rapidamente com a densidade do que esta isoladamente, ocasionando assim um aumento com a velocidade. Altos valores do modulo estão relacionados a rochas rígidas, densas e altamente consolidadas, possuindo grande resistência a mudanças na forma e no volume. 
Pressão
Existem dois tipos de pressão que afetam as velocidades sísmicas: a confinante, relacionada à pressão litostática e hidrostática e a pressão de resistência dos fluídos contidos nos poros das rochas. A diferença entre as duas pressões é a resultante que afeta as velocidades sísmicas. O aumento da pressão confinante faz com que os poros e fraturas se fechem e, em consequência, a rocha se torne mais densa e também aumente a sua resistência à mudança de volume, gerando assim um aumento de velocidade de propagação. Ensaio realizado por Dillon (1989) revelou um aumento das velocidades sísmicas com o aumento da pressão, sendo este aumento mais acentuado para ondas do tipo P que para as ondas do tipo S.

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