segunda-feira, 13 de maio de 2019

RESENHA| A EVOLUÇÃO TECTÔNICA DO CRATÓN AMAZÔNICO



O artigo escrito por Tassinari e Macambira em 2004, é um estudo sobre as províncias geocronológicas do Cráton Amazônico. O Cráton é localizado na parte norte da América do Sul, sendo circundado por faixas móveis neoproterozoicas de um lado e do outro o oceano atlântico.É uma das maiores áreas cratônicas do mundo, com superfície total de aproximadamente 4,3x105 Km2. Territorialmente é dividido em dois escudos, o do Guaporé e o das Guianas, separados pelas rochas sedimentares da Bacia paleozoica do Amazonas. A fim de melhor compreender a evolução do cráton, o mesmo é dividido em 6 principais províncias geocronológicas: Amazônia Central, Maroni-Itacaiunas; Rio Negro – Juruna, Ventuari – Tapajós, Rondoniano – San Ignácio e Sunsás.
Tassinari e Macambira (1999) definem Província Geocronológica como sendo grandes zonas dentro das áreas cratônicas, onde predomina um determinado padrão geocronológico, com as idades obtidas por diferentes métodos aplicados em distintos materiais, exibindo valores coerentes entre si. Dessa forma os limites entre as províncias são traçados com base nas idades do embasamento metamórfico e nas características geológicas, com suporte de dados geofísicos.
Cada província geocronológica pode conter rochas ígneas anorogênicas e coberturas vulcânicas e sedimentares de distintas idades, desde que mais jovens do que o padrão geocronológico de seu respectivo embasamento metamórfico e em concordância com a evolução tectônica das áreas vizinhas.
As províncias Ventuari-Tapajós, Rio Negro- Juruena e parte das províncias Maroni-Itacaiúnas e Rondoniana-San Ignácio evoluíram através de sucessivos arcos magmáticos produzindo acresções continentais a partir de magmas derivados do manto superior. Por outro lado, a evolução da Província Sunsás e de parte das províncias Rondoniana-San Ignácio e Maroni-Itacaiunas parece estar associada principalmente a processos de colisão continental.
A Província Amazônia Central é composta da crosta continental mais antiga do Cráton Amazônico, e dessa forma, não afetada pela orogenia Transamazônica. É dividida em dois domínios principais: um formado por áreas com embasamento francamente arqueano a Província Mineral Carajás, no sudeste do cráton- e outro formado pela faixa de direção SE- NW que vai da região a oeste da Província Carajás ao Estado de Roraima, sendo parcialmente coberta pela bacia do Amazonas.
A Província Maroni-Itacaiúnas contorna a Província Amazônia Central, definindo uma larga faixa na borda norte- nordeste do Cráton Amazônico com evolução principal ocorrida no intervalo de 2,2 a 1,95 Ga. Após a abertura oceânica e formação de uma crosta juvenil entre 2,26 e 2,20 Ga, seguiram-se movimentos convergentes em ambiente de arco de ilha, gerando magmatismo dominantemente tonalítico (TTG) e sequências greenstone no intervalo de 2,18 a 2,13 Ga. Com o fechamento da bacia de arco e de evolução para movimentos sinistrais, produziram-se magmas graníticos e bacias preenchidas com detritos a cerca de 2,10 Ga.
O Estado de Roraima representa uma área-chave para entendimento da evolução de algumas províncias geocronológicas do Cráton Amazônico uma vez que reúne pontos de entre elas, pouco esclarecidos. O estado é dividido em domínios litoestruturais, que incluem as coberturas vulcânicas e sedimentares, e os granitos tipo A, a exemplo dos grupos Surumu Roraima, granitos Mapuera e Saracura.
Estes domínios situam-se geocronologicamente dentro da Província Maroni–Itacaiúnas, e são divididos em:Domínio Urariquera, no nordeste do estado, constitui terrenos ciclo vulcano-plutônico-sedimentares com idade entre 1,98 e 1,78 as Ga e direção WNW-WSW; Domínio Parima, um terreno granito-greenstone no noroeste com direção NW-SE e E-W e juvenil idades entre 1,97 e 1,94 Ga; Domínio Guiana Central, é um cinturão de alto grau no centro do estado com direção NE-SW e idade entre 1,94 e 1,93 Ga, intrudido por uma associação AMG (anortosito/gabro-mangerito-granito-repakivi) de cerca e de 1,5 Ga e afetado por cisalhamento de cerca de 1,2 Ga (Evento K’Mudku) e Domínio Anauá-Jatapu, no sudeste com direção NW-SE, NE-SW, composto de terrenos granitos-gnáissicos de idade entre 2,03 e 1,81 Ga.
A Província Ventuari-Tapajós trunca o segmento NE-SW do cinturão Maroni-Itacaiúnas, e limita-se também com a parte ocidental da Província Amazônia Central, estendendo-se desde o sul da Venezuela até a região do rio Tapajós, no sudoeste do Estado do Pará.Geologicamente, essa província contrasta fortemente com a Maroni-Itacaiúnas, que possui predomínio de granulitos e rochas metavulcano-sedimentares.
Na Província Ventuari-Tapajós predominam granitos gnáissicos de composição quartzo-dioritica a granodioritica, formados entre 1,95 e 1,8 Ga, a partir de processos de diferenciação mantélica ocorridos pouco tempo antes da formação das rochas, caracterizando a atuação de um arco magmático. Tanto em sua parte norte como sul, ocorrem associações vulcano-plutônicas de ao tendências cálcio-alcalinas e toleíticas isentas de recristalização metamórfica. O magmatismo máfico da Província Ventuari-Tapajós restringe-se a diques e sills de diabásio de composição tipo olivina gabro, que seccionarm tanto as rochas do embasamento como as coberturas vulcânicas e sedimentares.
A Província Rio Negro-Juruena ocorre na porção continental do Cráton Amazônico, dispondo-se paralelamente à Província Ventuari-Tapajós, sendo constituída por uma zona de intensa ocorrência de granitos e migmatitos, desenvolvida através de uma sucessão de arcos magmáticos de idades entre 1,8 e 1,55 Ga. Esses dados mostram claramente que as sequências greestonebelt e as suítes TTG associadas formaram-se principalmente entre 1,8 e 1,75 Ga, a partir de materiais predominantemente juvenis, caracterizando um episódio de acresção continental.
A Província Rondoniana-San Ignácio encontra-se situada na parte sudoeste do Cráton Amazônico limitando-se, em parte, com a Província Rio Negro-Juruena, através da zona de falha Marechal Rondon, que possui direção NW-SE. Inclui rochas polimetamórficas formadas principalmente dentro do intervalo de tempo de 1,55 a 1,30 Ga, mas também contém núcleos antigos preservados.
No interior da Província Rondoniana-San Ignácio, na área de atuação da Orogenia San Ignácio, ocorrem rochas mais antigas, que foram consideradas como Rochas do Embasamento Pré-San Ignácio. Esses dados mostram que uma parte da Província Rondoniana-San na Ignácio formou-se a partir de retrabalhamento de rochas derivadas do manto no Paleo e Mesoproterozóico, durante as orogenias Transamazônica e Rio Negro-Juruena Sequencias supracrustais ocorrem ao longo na região.
A Província Sunsás, situada no extremo sudoeste da na área cratônica, constitui a província geocronológica mais rochas jovem do Cráton Amazônico. Nessa província, os eventos tectônicos e magmáticos ocorreram principalmente no intervalo de tempo entre 1,25 e 1,0 Ga. Ela foi formada através do desenvolvimento da Orogenia Sunsás, que foi caracterizada como sendo um período de sedimentação de material erodido de rochas pré-existentes. A atividade granítica relacionada à orogenia Sunsás compreende vários tipos de plútons circulares ou elípticos, formando batólitos ou stocks. Soerguimento e resfriamento regional ocorreram até 920 Ma, quando se estabeleceu a cratonização dessa imensa massa continental, que hoje constitui o chamado Cratón Amazônico.
Em linhas gerais, o registro geológico da evolução da crosta continental é governado pela repetida agregação e fragmentação de continentes, modulado pelo resfriamento secular do manto e pela acreção de crosta continental. A análise e as interpretação dos dados isotópicos disponíveis para o Cráton agentes Amazônico, em especial as idades-modelo Sm-NdTpM), indicam os períodos de diferenciação mantélica dos protólitos das rochas estudadas permitiram estimar que cerca de 30% da diferenciada área do Cráton Amazônico foi separada do manto superior durante o Arqueano. Os 70 % restantes foram extraídos no Proterozoico, principalmente durante o intervalo de 2,2 a 1,55 Ga, sendo o período em torno de 2,0 Ga o mais importante.
Como consequência da interpretação integrada dos dados geocronológicos disponíveis, pode-se considerar que o protocráton arqueano na região Amazônica era microcontinentes, representados hoje pelos subdomínios Carajás-Xingu-Iricoumé, pelos fragmentos que constituem o complexo de Imataca na Venezuela e o complexo Granulitico de Cupixi e Tartarugal Grande, no Amapá. Esses blocos arqueanos foram soldados ou acrecionados através de orogenias colisionsais, desenvolvidas dentro do intervalo de tempo entre 2,2 e 1,95 Ga, no âmbito da Província Maroni-Itacaiúnas.
Através dos processos de colagens, as atuais províncias Amazônia Central e Maroni-Itacaiúnas constituíam, no final do período Orosiriano (1,8 Ga), uma massa continental cratônica que iniciou um processo colisional com outro bloco cratônico, de idade aparente paleoproterozóica, que seria o embasamento que posteriormente seria retrabalhado pelas orogenias Rondoniana-San Ignácio e Sunsás. Esse processo colisional iniciou-se através de subducções de crosta oceânica que geraram, entre 1,9 e 1,55 Ga, sucessivos arcos magmáticos e, consequentemente, produziram uma grande quantidade de crosta continental juvenil.
Após a desagregação do supercontinente, movimentos convergentes produziriam a orogenia Rondoniana-San Ignácio, envolvendo uma colisão crosta oceânica versus crosta continental, produzindo uma reciclagem de rochas crustas e também a acrescão de material juvenil, através do desenvolvimento de arcos magmáticos. Com a continuidade desse processo seriam gerados sistemas de rifts continentais onde depositaram-se os sedimentos que iriam formar os grupos Aguapei e Sunsás, e posteriormente, essas rochas sedimentares sofreriam deformações e metamorfismos, acompanhados por atividades magmáticas graníticas e máficas, gerando a orogenia Sunsás.


A concepção sobre a evolução tectônica do Cráton Amazônico é baseada em composições isotópicas que provêm de granitoides e ortognaisses, onde os isótopos de Sr, Pb e Nd indicam que provavelmente o protocráton teve origem no Arqueano após a colisão de microcontinentes e sucessivos processos de quelogênese durante o paleoproterozoico. Além disso, houve uma importante formação de crosta continental a partir de um material mais jovem, possivelmente paleo e mesoproterozoico provido diretamente do manto e evoluídos através de sucessivos arcos magmáticos.
Apesar de estar dividido em províncias com idades geocronológicas especificas, estas podem apresentar fragmentos mais antigos de outras províncias já bastante retrabalhados. As idades compreendem um intervalo de tempo desde 2,5Ga a 1,0Ga, idade a partir da qual é assumido que oCratón tem permanecido estável.
De maneira geral, que foi observado que o Cráton Amazônico passou por diferentes estágios até apresentar a configuração atual. Os processos envolveram desde formação de arcos magmáticos e colisões continentais, além disso os blocos rochosos sofreram amalgamamento e fragmentação sucessiva ao longo do período de formação. Todo esse processo gerou cerca 30% da área da crosta continental derivada do manto no Arqueano enquanto os outros 70% foram formados durante o Paleo e o Mesoproterozoico.



Nenhum comentário:

Postar um comentário