O artigo escrito por
Tassinari e Macambira em 2004, é um estudo sobre as províncias geocronológicas
do Cráton Amazônico. O Cráton é localizado na parte norte da América do Sul,
sendo circundado por faixas móveis neoproterozoicas de um lado e do outro o
oceano atlântico.É uma das maiores áreas cratônicas do mundo, com superfície
total de aproximadamente 4,3x105 Km2. Territorialmente é
dividido em dois escudos, o do Guaporé e o das Guianas, separados pelas rochas
sedimentares da Bacia paleozoica do Amazonas. A fim de melhor compreender a
evolução do cráton, o mesmo é dividido em 6 principais províncias
geocronológicas: Amazônia Central, Maroni-Itacaiunas; Rio Negro – Juruna,
Ventuari – Tapajós, Rondoniano – San Ignácio e Sunsás.
Tassinari e Macambira
(1999) definem Província Geocronológica como sendo grandes zonas dentro das
áreas cratônicas, onde predomina um determinado padrão geocronológico, com
as idades obtidas por diferentes métodos aplicados em distintos materiais, exibindo
valores coerentes entre si. Dessa forma os limites entre as províncias são
traçados com base nas idades do embasamento metamórfico e nas características
geológicas, com suporte de dados geofísicos.
Cada província
geocronológica pode conter rochas ígneas anorogênicas e coberturas vulcânicas e
sedimentares de distintas idades, desde que mais jovens do que o padrão
geocronológico de seu respectivo embasamento metamórfico e em concordância com
a evolução tectônica das áreas vizinhas.
As províncias Ventuari-Tapajós,
Rio Negro- Juruena e parte das províncias Maroni-Itacaiúnas e Rondoniana-San
Ignácio evoluíram através de sucessivos arcos magmáticos produzindo acresções
continentais a partir de magmas derivados do manto superior. Por outro lado, a evolução
da Província Sunsás e de parte das províncias Rondoniana-San Ignácio e
Maroni-Itacaiunas parece estar associada principalmente a processos de colisão
continental.
A Província Amazônia
Central é composta da crosta continental mais antiga do Cráton Amazônico, e
dessa forma, não afetada pela orogenia Transamazônica. É dividida em dois
domínios principais: um formado por áreas com embasamento francamente arqueano
a Província Mineral Carajás, no sudeste do cráton- e outro formado pela faixa
de direção SE- NW que vai da região a oeste da Província Carajás ao Estado de
Roraima, sendo parcialmente coberta pela bacia do Amazonas.
A Província
Maroni-Itacaiúnas contorna a Província Amazônia Central, definindo uma larga
faixa na borda norte- nordeste do Cráton Amazônico com evolução principal ocorrida
no intervalo de 2,2 a 1,95 Ga. Após a abertura oceânica e formação de uma
crosta juvenil entre 2,26 e 2,20 Ga, seguiram-se movimentos convergentes em
ambiente de arco de ilha, gerando magmatismo dominantemente tonalítico (TTG) e
sequências greenstone no intervalo de
2,18 a 2,13 Ga. Com o fechamento da bacia de arco e de evolução para movimentos
sinistrais, produziram-se magmas graníticos e bacias preenchidas com detritos a
cerca de 2,10 Ga.
O Estado de Roraima
representa uma área-chave para entendimento da evolução de algumas províncias
geocronológicas do Cráton Amazônico uma vez que reúne pontos de entre elas,
pouco esclarecidos. O estado é dividido em domínios litoestruturais, que incluem
as coberturas vulcânicas e sedimentares, e os granitos tipo A, a exemplo dos
grupos Surumu Roraima, granitos Mapuera e Saracura.
Estes domínios
situam-se geocronologicamente dentro da Província Maroni–Itacaiúnas, e são
divididos em:Domínio Urariquera, no nordeste do estado, constitui terrenos
ciclo vulcano-plutônico-sedimentares com idade entre 1,98 e 1,78 as Ga e
direção WNW-WSW; Domínio Parima, um terreno granito-greenstone no noroeste com direção NW-SE e E-W e juvenil idades
entre 1,97 e 1,94 Ga; Domínio Guiana Central, é um cinturão de alto grau no
centro do estado com direção NE-SW e idade entre 1,94 e 1,93 Ga, intrudido por
uma associação AMG (anortosito/gabro-mangerito-granito-repakivi) de cerca e de
1,5 Ga e afetado por cisalhamento de cerca de 1,2 Ga (Evento K’Mudku) e Domínio Anauá-Jatapu,
no sudeste com direção NW-SE, NE-SW, composto de terrenos granitos-gnáissicos
de idade entre 2,03 e 1,81 Ga.
A Província Ventuari-Tapajós
trunca o segmento NE-SW do cinturão Maroni-Itacaiúnas, e limita-se também com a
parte ocidental da Província Amazônia Central, estendendo-se desde o sul da
Venezuela até a região do rio Tapajós, no sudoeste do Estado do Pará.Geologicamente,
essa província contrasta fortemente com a Maroni-Itacaiúnas, que possui
predomínio de granulitos e rochas metavulcano-sedimentares.
Na Província
Ventuari-Tapajós predominam granitos gnáissicos de composição quartzo-dioritica
a granodioritica, formados entre 1,95 e 1,8 Ga, a partir de processos de
diferenciação mantélica ocorridos pouco tempo antes da formação das rochas, caracterizando
a atuação de um arco magmático. Tanto em sua parte norte como sul, ocorrem
associações vulcano-plutônicas de ao tendências cálcio-alcalinas e toleíticas
isentas de recristalização metamórfica. O magmatismo máfico da Província
Ventuari-Tapajós restringe-se a diques e sills de diabásio de composição tipo
olivina gabro, que seccionarm tanto as rochas do embasamento como as coberturas
vulcânicas e sedimentares.
A Província Rio
Negro-Juruena ocorre na porção continental do Cráton Amazônico, dispondo-se paralelamente
à Província Ventuari-Tapajós, sendo constituída por uma zona de intensa ocorrência
de granitos e migmatitos, desenvolvida através de uma sucessão de arcos
magmáticos de idades entre 1,8 e 1,55 Ga. Esses dados mostram claramente que as
sequências greestonebelt e as suítes
TTG associadas formaram-se principalmente entre 1,8 e 1,75 Ga, a partir de
materiais predominantemente juvenis, caracterizando um episódio de acresção continental.
A Província
Rondoniana-San Ignácio encontra-se situada na parte sudoeste do Cráton
Amazônico limitando-se, em parte, com a Província Rio Negro-Juruena, através da
zona de falha Marechal Rondon, que possui direção NW-SE. Inclui rochas
polimetamórficas formadas principalmente dentro do intervalo de tempo de 1,55 a
1,30 Ga, mas também contém núcleos antigos preservados.
No interior da Província
Rondoniana-San Ignácio, na área de atuação da Orogenia San Ignácio, ocorrem
rochas mais antigas, que foram consideradas como Rochas do Embasamento Pré-San
Ignácio. Esses dados mostram que uma parte da Província Rondoniana-San na Ignácio
formou-se a partir de retrabalhamento de rochas derivadas do manto no Paleo e
Mesoproterozóico, durante as orogenias Transamazônica e Rio Negro-Juruena
Sequencias supracrustais ocorrem ao longo na região.
A Província Sunsás,
situada no extremo sudoeste da na área cratônica, constitui a província
geocronológica mais rochas jovem do Cráton Amazônico. Nessa província, os
eventos tectônicos e magmáticos ocorreram principalmente no intervalo de tempo
entre 1,25 e 1,0 Ga. Ela foi formada através do desenvolvimento da Orogenia
Sunsás, que foi caracterizada como sendo um período de sedimentação de material
erodido de rochas pré-existentes. A atividade granítica relacionada à orogenia
Sunsás compreende vários tipos de plútons circulares ou elípticos, formando
batólitos ou stocks. Soerguimento e resfriamento regional ocorreram até 920 Ma,
quando se estabeleceu a cratonização dessa imensa massa continental, que hoje
constitui o chamado Cratón Amazônico.
Em linhas gerais, o registro
geológico da evolução da crosta continental é governado pela repetida agregação
e fragmentação de continentes, modulado pelo resfriamento secular do manto e
pela acreção de crosta continental. A análise e as interpretação dos dados
isotópicos disponíveis para o Cráton agentes Amazônico, em especial as
idades-modelo Sm-NdTpM), indicam os períodos de diferenciação mantélica dos
protólitos das rochas estudadas permitiram estimar que cerca de 30% da
diferenciada área do Cráton Amazônico foi separada do manto superior durante o
Arqueano. Os 70 % restantes foram extraídos no Proterozoico, principalmente
durante o intervalo de 2,2 a 1,55 Ga, sendo o período em torno de 2,0 Ga o mais
importante.
Como consequência da
interpretação integrada dos dados geocronológicos disponíveis, pode-se
considerar que o protocráton arqueano na região Amazônica era microcontinentes,
representados hoje pelos subdomínios Carajás-Xingu-Iricoumé,
pelos fragmentos que constituem o complexo de Imataca na Venezuela e o complexo
Granulitico de Cupixi e Tartarugal Grande, no Amapá. Esses blocos arqueanos
foram soldados ou acrecionados através de orogenias colisionsais, desenvolvidas
dentro do intervalo de tempo entre 2,2 e 1,95 Ga, no âmbito da Província Maroni-Itacaiúnas.
Através dos processos
de colagens, as atuais províncias Amazônia Central e Maroni-Itacaiúnas
constituíam, no final do período Orosiriano (1,8 Ga), uma massa continental
cratônica que iniciou um processo colisional com outro bloco cratônico, de
idade aparente paleoproterozóica, que seria o embasamento que posteriormente
seria retrabalhado pelas orogenias Rondoniana-San Ignácio e Sunsás. Esse
processo colisional iniciou-se através de subducções de crosta oceânica que
geraram, entre 1,9 e 1,55 Ga, sucessivos arcos magmáticos e, consequentemente,
produziram uma grande quantidade de crosta continental juvenil.
Após a desagregação
do supercontinente, movimentos convergentes produziriam a orogenia
Rondoniana-San Ignácio, envolvendo uma colisão crosta oceânica versus crosta
continental, produzindo uma reciclagem de rochas crustas e também a acrescão de
material juvenil, através do desenvolvimento de arcos magmáticos. Com a continuidade
desse processo seriam gerados sistemas de rifts
continentais onde depositaram-se os sedimentos que iriam formar os grupos
Aguapei e Sunsás, e posteriormente, essas rochas sedimentares sofreriam deformações
e metamorfismos, acompanhados por atividades magmáticas graníticas e máficas,
gerando a orogenia Sunsás.
A concepção sobre a
evolução tectônica do Cráton Amazônico é baseada em composições
isotópicas que provêm de granitoides e ortognaisses, onde os isótopos de Sr, Pb
e Nd indicam que provavelmente o protocráton teve origem no Arqueano após a
colisão de microcontinentes e sucessivos processos de quelogênese durante o
paleoproterozoico. Além disso, houve uma importante formação de crosta
continental a partir de um material mais jovem, possivelmente paleo e
mesoproterozoico provido diretamente do manto e evoluídos através de sucessivos
arcos magmáticos.
Apesar de estar
dividido em províncias com idades geocronológicas especificas, estas podem
apresentar fragmentos mais antigos de outras províncias já bastante
retrabalhados. As idades compreendem um intervalo de
tempo desde 2,5Ga a 1,0Ga, idade a partir da qual é assumido que oCratón tem
permanecido estável.
De maneira geral, que
foi observado que o Cráton Amazônico passou por diferentes estágios até
apresentar a configuração atual. Os processos envolveram desde formação de
arcos magmáticos e colisões continentais, além disso os blocos rochosos
sofreram amalgamamento e fragmentação sucessiva ao longo do período de
formação. Todo esse processo gerou cerca 30% da área da crosta continental
derivada do manto no Arqueano enquanto os outros 70% foram formados durante o
Paleo e o Mesoproterozoico.
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