sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

2 dicas de literatura brasileira: Vésperas e Estive em Lisboa e lembrei de você


            Dando um tempo da literatura estrangeira, vamos falar um pouco da literatura made in Brazil. Apresento para vocês dois livros bem curtinhos e escritos inteiramente em português por autores nacionais.


            O primeiro é Vésperas. A obra é um conjunto de contos sobre algumas das maiores escritoras da literatura mundial. São 9 contos, um para cada escritora, onde a autora, Adriana Lunardi, mistura realidade com um pouco de ficção para narrar os últimos momentos de vida dessas mulheres brilhantes. Os contos são pequenos, e tratam sobretudo da morte, com um olhar para a eternidade e como cada uma destas mulheres conseguiu a partir de suas obras superar o tempo.

"Espero viver sempre às vésperas. E não no dia" ~ Clarice Lispector.



            A segunda obra é Estive em Lisboa e lembrei de você. O livro é uma narrativa oral, transcrita pelo autor Luiz Ruffato, a partir do depoimento de um rapaz mineiro que partiu para Portugal em busca de uma vida melhor no final dos anos 90. O depoimento foi minimamente editado pelo autor, o que torna o trabalho único, com uma linguagem leve e informal. O texto é gostoso de ler, e me senti como se estivesse ouvindo o depoimento do próprio Sérgio Sampaio, protagonista desta aventura. Nessas poucos páginas, o autor apresenta a vida do Serginho, os motivos que levaram ele a deixar a pátria mãe e as dificuldades que encontrou em Lisboa tudo em um descontraído e bem humorado.


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

RESENHA| LE RAPPORT DE BRODECK




"Vivre, continuer à vivre, c'est peut-être décider que le réel ne l'est pas tout à fait, c'est peut-être choisir une autre réalité lorsque celle nous avons connue devient d'un poids insupportable?"

            Já que eu não sou um sujeito nenhum pouco atlético ou fã de esportes radicais, meus desafios são pouco menos perigosos, e o desta vez foi ler LE RAPPORT DE BRODECK.

            Escrito pelo também cineasta e dramaturgo Philippe Claudel, o romance conta com 400 páginas e em resumo é uma investigação da consciência humana e de nossas motivações na vida. A obra é trágica, repleta de parábolas e palavras estrangeiras (em alemão e um outro dialeto criado pelo próprio autor) para explicar acontecimentos marcantes na história de um vilarejo francês.

            O ponto central da narrativa é o aparecimento de um visitante inusitado em uma pequena cidade francesa na fronteira com a Alemanha. A cidade isolada do restante do mundo por uma cadeia de montanhas havia pela última vez recebido visitantes na época da ocupação alemã.

            Anos após o fim da Guerra, a chegada deste visitante desperta a desconfiança e rejeição de toda a vila. O medo de que algo semelhante a o que aconteceu durante a ocupação voltasse a acontecer, leva a própria população a se livrar do estrangeiro.

            Assim Brodeck é encargado pelo prefeito de escrever um relatório contando tudo o que havia acontecido na vila deste a chegada do andarilho até seu triste fim. Ao tentar reconstruir os passos do visitante, Brodeck é levado a revisitar memórias de seu próprio passado e descobre como estas memórias ainda influenciam os acontecimentos do presente.

            Apesar de viver há anos na pequena vila francesa, Brodeck também chegou na cidade como um andarilho, órfão e fugindo de uma guerra. Quando a cidade foi ocupada pelo exército alemão, Brodeck foi forçado a abandonar a família e a tranquilidade da pequena cidade e marchar a um campo de concentração em resposta a política nazista de purificação racial.

            Durante anos viveu as piores experiências imagináveis no Campo, e quando finalmente consegue voltar ara os braços de sua amada, é obrigado a enfrentar o passado e descobrir da piora maneira possível as consequências do ódio e medo na vida dos inocentes.
             
            Uma leitura que exigiu muito, desde o idioma até o conteúdo da narrativa. O livro é denso e mesmo sendo ficção, aborda um triste capítulo da história da humanidade além de trazer diversas reflexões sobre a natureza do individuo.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Litologia de Rochas Terrígenas




As rochas terrígenas (clásticas ou detríticas) são formados pela acumulação natural de sedimentos, ou seja, fragmentos de rochas preexistentes vindos de fora da bacia de sedimentação (alóctones). As partículas individuais que foram transportados ao sítio de deposição na forma de partículas sólidas variam de tamanho, sendo os sedimentos de textura média, como as areias, mais comumente compostos por partículas de minerais individuais liberados fisicamente da rocha matriz. Os sedimentos clásticos mais finos, como os siltes e as argilas são compostos predominantemente por grãos finos de quartzo ou por argilominerais formados por intemperismo químico.
São ditas rochas sedimentares epiclásticas por que o material terrígeno foi transportado por vários meios (água, vento, gelo) até chegar a área de deposição. Constituem cerca de 60% a 80% das colunas estratigráficas tendo como principais minerais, o quartzo, o feldspato e os argilominerais.
Em geral os sedimentos epiclásticos são classificados segundo a granulometria predominante entre as partículas clásticas em cascalhos, areias, siltes e argilas. Esses três tipos de fragmentos definem a subdivisão básica na classificação de sedimentos epiclásticos em: rochas rudáceas (ou psefíticas), rochas arenáceas (ou psamíticas) e rochas lutáceas (ou pelíticas), conforme se usem palavras de raízes latina ou grega, respectivamente.

Rochas Rudáceas: A seleção de tamanho dos fragmentos grossos que compõem os depósitos rudáceos é bastante diversificada e depende das características da área-fonte, do meio e dos modos de transporte e deposição.Em geral, considera-se um depósito de cascalho os depósitos compostos mais da metade por grãos maiores que grânulos (2 mm).
A seleção granulométrica é melhor em conglomerados finos, tendendo a ser cada vez mais pobres em rochas rudáceas grossas, pois nessas rochas aumenta a participação da rocha matriz.
O grau de sedimentação e natureza do cimento são muito variáveis. Partículas inferiores a 2 mmde origem também detríticas podem constituir a matriz, ou pode ocorrer o cimento originado por precipitação química (carbonato de cálcio, sílica ou hidróxido de ferro).
A classificação dos conglomerados pode ser baseada na textura (conglomerado de matacões, de calhaus, etc.) ou na sua composição (conglomerado arcoziano, granítico, etc.) ou ainda no tipo de cimento (conglomerado ferruginoso, silicoso, etc.)
Os cascalhos são depósitos inconsolidados de matacões, calhaus, seixos e grânulos que quando consolidado passa-se a chamar conglomerado ou brecha dependendo do grau de arredondamento ou angulosidade dos grãos.

Rochas Arenáceas: É um sedimento sem coesão, sendo os grãos do arcabouço formados por partículas entre 0,062 e 2 mm. Os sedimentos arenosos resultam da mistura de grãos minerais e fragmentos provenientes da erosão de diferentes rochas matrizes, entretanto a composição mineralógica mais comum é a quartzosa.
A composição mineralógica pode ser modificada por dissolução, precipitação química ou transformações digenéticas, sendo um forte indicador da área-fonte que foi erodida para produzir os grãos.Durante esse processo carbonatos em partículas podem ser adicionados por precipitação química preenchendo os meios porosos entre os grãos.
Assim como nos seixos os grãos de areia são arredondados durante o transporte, sendo um processo muito lento, principalmente nos grãos arenosos de quartzo. A forma e o arredondamento são propriedades dos grãos de areia que tem significado para o estudo dos efeitos do processo de transporte de sedimentos. A existência de grãos angulosos indica que percorreram distâncias pequenas, enquanto grãos arredondados indicam um longo caminho percorrido.
A classificação dos arenitos de Pettijohn et al. (1972) adota como critério fundamental as proporções de quartzo, feldspato e fragmentos líticos. Sendo os que apresentam menos de 5% de feldspato ou partículas líticas chamados de arenitos ortoquartizíticos e os arenitos com 25% ou mais de grãos de feldspato e menor quantidade de fragmentos líticos chamados de arenitos arcozianos. Os que possuem 25% ou mais de fragmentos líticos e menor quantidade de feldspato são arenitos líticos e por último as classes de transição compreendem os subarcózios (5% a 25% de feldspato) e os arenitos sublíticos com 5% a 25% de fragmentos líticos.

Rochas Lutáceas: As rochas lutáceas são muito mais escassamente expostas que os calcários e arenitos, em razão da maior erodibilidade.Possuem granulometria muito fina, compreendendo os sedimentos cuja granulometria predominante situa-se nos intervalos entre silte e argila (entre 0,0039 e 0,062 mm).
Em geral, a fração mais grossa é mais rica em quartzo e feldspato e, na fração fina, predominam os argilominerais que, normalmente perfazem mais de 50% dos minerais dessas rochas. A maioria dos argilitos e folhelhos contem grande porcentagem de silte, sendo raras as argilas puras.
Diferentes nomes são empregados para designar as rochas lutáceas. Argilito é uma denominação para rochas mais maciças (argila litificada). Folhelho é empregado para designar uma rocha argilosa com fissilidade e o lamito refere-se a lama (mistura de várias proporções de fragmentos pelíticos e areia) consolidado.

REFERÊNCIAS

PRESS, F, SIEVER R.,GROTZINGER, J. & JORDAN, T. H., 2006. Para Entender a Terra. 4 ed. – Porto Alegre: Bookman.
SUGUIO, K. Geologia Sedimentar. São Paulo: editora Edgard Blücher Ltda, 2003. 400p.
TEIXEIRA, Wilson (org.)  et. al; Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.

POR QUE OS MINERAIS MAIS VALIOSOS ESTÃO CONCENTRADOS NO REGIME EPITERMAL?



A origem e evolução dos fluidos mineralizantes dos depósitos porfiríticos é complexa e depende das suas composições iniciais e caminhos de resfriamento. Assim, os depósitos hidrotermais epigenéticos são classificados de acordo com a sua profundidade e temperatura de formação: depósitos hipotermais são depósitos profundos e de alta temperatura; depósitos mesotermais são formados a baixas temperaturas e profundidades médias, e depósitos epitermais são formados próximos à superfície.
Os sistemas epitermais são definidos como aqueles formados a temperaturas baixas a moderadas (entre aproximadamente 50 e 350°C) e pressões de fluidos meteóricos predominantemente fracamente salinos (<1 a aproximadamente 5% em peso de NaCl). Embora os depósitos epitermais sejam em sua maioria hospedados por vulcões e claramente relacionados à atividade vulcano-plutônica, há, no entanto, uma categoria de sistemas epitermais hospedados por rochas sedimentares, que não parecem ter uma conexão clara com a atividade ígnea.
Por conta de essa menor profundidade de colocação, estes depósitos estão sujeitos a uma maior interação com a água de origem meteórica. A água meteórica infiltra por vários quilômetros de profundidade, chegando até a zona de alto fluxo de calor, onde absorve calor e sobe em uma sucessão de zonas permeáveis. A movimentação da água quente gera uma circulação, onde o fluido está reagindo e provavelmente obtendo componentes dissolvidos tanto da intrusão magmática quanto das rochas encaixantes. Esta mobilização dos elementos químicos gera um considerável enriquecimento dos minerais econômicos, tornando assim os depósitos financeiramente viáveis.
Dessa forma, a interação de fluidos hidrotermais com as rochas encaixantes e / ou a hidrosfera e mudanças em sua composição através do tempo e espaço, contribuem para a formação de uma ampla gama de tipos de depósitos minerais e alteração da rocha encaixante, como turmainização, serpentinização e talco-carbonato. O trabalho sobre inclusões fluidas de Grant et at. (1977) mostrou que a alteração generalizada e o crescimento precoce de veios, ocorreram a temperaturas muitos próximas as encontradas em regime epitermal (cerca de 400-350°C para deposição de cassiterita e 300°C para deposição de sulfeto).
Embora, alguns autores considerem que as rochas da crosta superior possam ser a fonte dos metais delas retirados pela interação com águas meteóricas as rochas encaixantes das intrusões e depósitos porfiríticos, geralmente, não são consideradas viáveis para ser consideradas fontes. O conteúdo dos metais dos depósitos porfiríticos são muito provavelmente depositados a partir de fluidos altamente salinos (acima de 60 % de NaCl equivalente), de derivação magmática, bem diferente dos fluidos do regime epitermal.
Burnham (1979) examinou detalhadamente o sistema hidrotermal magmático gerado durante o resfriamento de um stock intrusivo de granodiorito hipotético contendo 3% em peso de água, e presumindo que o resfriamento do corpo intrusivo tenha ocorrido em um ambiente subvulcânico, acredita-se que está relacionada à atividade ígnea intrusiva por alteração de águas hidrotermais ascendentes, ou seja, depósitos epitermais, mesotérmicos e hipotérmicos.
Outra análise realizada por William-Jones e Heinrich (2005) concluiu que os sistemas pórfiro Cu-Au e Au-Ag epitermal podem ser considerados como produtos de um processo contínuo que está ligado à evolução e ao resfriamento de um líquido magmático.

REFERÊNCIAS

ROBB, L. Introduction to Ore-forming Process. 1ª ed. Australia. Editora Blackwell Science, 2005. 386p.
EVANS, A. M. Ore Geology and Industrial Minerals: An Introduction. 3ª ed. Australia. Editora Blackwell Science, 2009. 403p.
PIRAJNO, F. Hydrothermal Processes and Mineral Systems. 1ª ed. Australia. Editora Springer, 2008. 1273p.