Como não lembrar da famosa frase
dita antes de começar o filme: ‘Versão brasileira, Herbert Richers’?
A atividade, a
qual Herbert Richers passou a se dedicar, no fim da década de 1950, foi
sugestão do amigo Walt Disney, o midas da animação americana. O estúdio que foi
um dos principais da chanchada — gênero que dominou a cinematografia nacional
nas décadas de 1940 e 1950 — e que chegou a dominar 80% do mercado de dublagem
no Brasil.
A morte lenta da
Herbert Richers começou em 2003, quando, por meio de um acordo trabalhista, os
dubladores passaram a poder gravar em outros estúdios, sem vínculo
empregatício. A partir dali, várias outras empresas de dublagem — algumas
abertas por ex-funcionários da HR — começaram a surgir no mercado, oferecendo
serviços a preços bem mais baixos. O lucro do estúdio começou a cair em razão
inversa aos gastos para manter a folha de pagamento dos cerca de 300 funcionários,
todos com carteira assinada.
A empresa passou
a funcionar de forma deficitária — os depósitos de salários e do FGTS dos
empregados começaram a atrasar, o que gerou várias ações trabalhistas. Em 2009,
Herbert Richers morreu e o prédio na Usina deixou de operar. Três anos depois,
o imóvel foi à leilão por R$ 1,7 milhão, sendo arrematado, à época, por um
grupo de empresários. A verba acabou usada no pagamento de débitos com
ex-funcionários e também na quitação de impostos atrasados.
O silêncio que
ganhou materialização nas bancadas que, durante mais de 40 anos, foram usadas
por atores que emprestaram as vozes a personagens que capturaram a imaginação
dos fãs — hoje, assim como o restante do edifício, elas estão destruídas por
infiltrações, mofo e por parte do teto que veio abaixo, durante um incêndio que
quase destruiu as instalações em 2012.
O imóvel que
abrigava o estúdio — abandonado desde 2009, quando seu fundador morreu — foi
comprado pela Sukyo Mahikari, uma instituição religiosa japonesa, cujas raízes
são comuns à Igreja Messiânica. Ao encontrar o imenso acervo que ainda
permanecia no edifício, uma das representantes da igreja entrou em contato com
a UFF para que o material ganhasse um destino apropriado.
Milhares
de negativos, películas, fitas e registros de ex-empregados foram transportados
de caminhão para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), onde passarão por
um extenso processo de análise e catalogação, trabalho que não deverá levar
menos de um ano. “Já o mobiliário será levado para a universidade”, explicou
Fabián Núñez, professor da cadeira de Conservação e que coordenou a ação dos
estudantes no resgate do material.
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