domingo, 12 de abril de 2015

Após anos de abandono, estúdio Herbert Richers tem acervo doado




Como não lembrar da famosa frase dita antes de começar o filme: ‘Versão brasileira, Herbert Richers’?

A atividade, a qual Herbert Richers passou a se dedicar, no fim da década de 1950, foi sugestão do amigo Walt Disney, o midas da animação americana. O estúdio que foi um dos principais da chanchada — gênero que dominou a cinematografia nacional nas décadas de 1940 e 1950 — e que chegou a dominar 80% do mercado de dublagem no Brasil.

A morte lenta da Herbert Richers começou em 2003, quando, por meio de um acordo trabalhista, os dubladores passaram a poder gravar em outros estúdios, sem vínculo empregatício. A partir dali, várias outras empresas de dublagem — algumas abertas por ex-funcionários da HR — começaram a surgir no mercado, oferecendo serviços a preços bem mais baixos. O lucro do estúdio começou a cair em razão inversa aos gastos para manter a folha de pagamento dos cerca de 300 funcionários, todos com carteira assinada.
A empresa passou a funcionar de forma deficitária — os depósitos de salários e do FGTS dos empregados começaram a atrasar, o que gerou várias ações trabalhistas. Em 2009, Herbert Richers morreu e o prédio na Usina deixou de operar. Três anos depois, o imóvel foi à leilão por R$ 1,7 milhão, sendo arrematado, à época, por um grupo de empresários. A verba acabou usada no pagamento de débitos com ex-funcionários e também na quitação de impostos atrasados.
O silêncio que ganhou materialização nas bancadas que, durante mais de 40 anos, foram usadas por atores que emprestaram as vozes a personagens que capturaram a imaginação dos fãs — hoje, assim como o restante do edifício, elas estão destruídas por infiltrações, mofo e por parte do teto que veio abaixo, durante um incêndio que quase destruiu as instalações em 2012.
O imóvel que abrigava o estúdio — abandonado desde 2009, quando seu fundador morreu — foi comprado pela Sukyo Mahikari, uma instituição religiosa japonesa, cujas raízes são comuns à Igreja Messiânica. Ao encontrar o imenso acervo que ainda permanecia no edifício, uma das representantes da igreja entrou em contato com a UFF para que o material ganhasse um destino apropriado.
Milhares de negativos, películas, fitas e registros de ex-empregados foram transportados de caminhão para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), onde passarão por um extenso processo de análise e catalogação, trabalho que não deverá levar menos de um ano. “Já o mobiliário será levado para a universidade”, explicou Fabián Núñez, professor da cadeira de Conservação e que coordenou a ação dos estudantes no resgate do material.

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