domingo, 20 de setembro de 2015

XENOFOBIA NA ALEMANHA


A xenofobia (termo derivado do grego – xénos: "estrangeiro"; e phóbos: "medo”) é um dos fenômenos mais presentes na história e também um dos mais característicos de nossa sociedade. Em uma definição mais geral, pode-se dizer que é uma aversão pelo que é diferente, pelo outro, que geralmente nos assusta com sua alteridade. Mas é também um termo usado para denominar um transtorno psiquiátrico que gera um medo excessivo, sem controle algum, ao que é desconhecido – objetos ou pessoas.
Este conceito também se estende, de forma um tanto polêmica, a qualquer discriminação de ordem racial, grupal – em referência a grupos minoritários – ou cultural. Esta acepção causa certa ausência de clareza, pois é assim confundida com preconceitos, e nem todos eles são considerados fobias. 
Ocorre principalmente nos países mais desenvolvidos, onde há maior contingente de imigrantes. Isso devido, basicamente, às diferenças socioculturais existentes entre pessoas de países diferentes e, principalmente, à relação tensa entre os trabalhadores dos países ricos e os estrangeiros, vindos de países mais pobres, que disputam os mesmos postos de trabalho.
Os impulsos migratórios são, geralmente, motivados por questões econômicas: de um lado, ligados a fatores de repulsão de emigrantes (crises econômicas, guerras, conflitos em geral, fome, etc.); e, de outro, a fatores de atração (oportunidades de emprego, sonhos de enriquecimento rápido, melhoria na qualidade de vida, etc.).
Embates sociais e xenofobia crescente marcam o momento da História em países da Ásia, América e Europa. Na Europa, alguns grupos xenófobos são conhecidos entre nós, como os Skinheads, na Inglaterra, e os Neonazistas, na Alemanha. Outros grupos não são tão conhecidos assim, como os Bloc Identitaire (França), Casa Pound (Itália) e English Defence League (Reino Unido).

HISTÓRIA DA XENOFOBIA NA EUROPA E NA ALEMANHA

         A Reconquista Cristã da Península Ibérica, que levou à formação de Portugal em 1147, foi a grande responsável pela primeira tentativa consciente de separação das raças. Foi nesta época que se criou o mito dos aristocratas terem sangue azul. Especialistas afirmam que o conceito de sangue azul era um conceito racista, tendo sido criado como um eufemismo para ser branco, visto que as veias das pessoas muito brancas parecem ser de cor azul.
         Após a “Reconquista” e a expulsão das forças árabes para fora da Península, fez-se aquilo que ficou conhecido por “Limpeza do Sangue”. Numa primeira fase a “Limpeza” consistia em vedar o acesso a alguns dos direitos mais importantes na sociedade aos “Cristãos-novos” (Judeus e Muçulmanos convertidos à força pela Inquisição Católica). Esta “Limpeza” acabou por se fixar mais na raça da pessoa do que na religião dos seus antepassados, visto que para aceder às ordens religiosas e militares era necessário que as pessoas entregassem o comprovativo em como o seu sangue era “limpo” (não eram ou não descendiam de Cristãos-novos).
Esta perseguição aos Judeus feita pela Igreja Católica na Península Ibérica provocou a debandada de uma enorme massa de Judeus para a Europa Central (Holanda, Alemanha, etc.) e fez com que Portugal e Espanha perdessem uma média e alta burguesia culta e empreendedora, o que mudou para sempre a história socioeconómica da Europa e do Mundo.
No Holocausto, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, os nazistas exterminaram aproximadamente seis milhões de judeus. Isso por que acreditavam que os judeus eram uma raça inferior e manchavam o nome da Alemanha de Hitler, e, logo, deveriam ser exterminados.

XENOFOBIA NOS DIAS ATUAIS

Em meados do século 20, os fluxos migratórios internacionais conheceram uma inversão. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), existem cerca de 200 milhões de migrantes no mundo, sendo que 60% deles são pessoas que saíram de países subdesenvolvidos rumo a países desenvolvidos, tendo como principais destinos os Estados Unidos (35 milhões, em 2000), a Europa (56 milhões, em 2000) e o Japão (1,5 milhões, em 1998).
Porém, esse novo fluxo de imigração internacional, acirrado pelas desigualdades entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, deve ser entendido a partir de dois momentos.
O primeiro deles ocorre entre a década de 50 e fins da de 70, quando alguns países da Europa, os Estados Unidos e o Japão estimulavam a imigração, a fim de conseguir mão-de-obra para ocupar as vagas de menor qualificação e baixa remuneração, desprezadas por suas populações locais. Os imigrantes, então, eram bem-vindos, mas controlados. Geralmente, na Europa, chegavam imigrantes vindos de suas colônias (ou ex-colônias); nos Estados Unidos, mexicanos eram convocados a trabalhar no campo através do "bracero program"; e, no Japão, os "dekasseguis" (trabalhadores brasileiros com ascendência japonesa) eram bem recebidos.
Quanto ao segundo momento, da década de 80 em diante, a intensificação do processo de globalização e a ascensão do neoliberalismo trouxe maior pressão à abertura dos mercados e acelerou o desenvolvimento técnico-científico, o que possibilitou maior aceleração da produção e da circulação de mercadorias no mundo - e menor (ou diferenciada) participação do Estado nos assuntos ligados à economia.
Todos esses elementos acabaram permitindo às indústrias dos países ricos que elas migrassem pelo mundo, em busca de novos mercados e de mão-de-obra barata, gerando crescente desemprego e diferenças salariais entre os trabalhadores dos países desenvolvidos.
Desse período em diante, com exceção dos trabalhadores com alto grau de qualificação vindos de países mais pobres (a chamada "fuga de cérebros"), os trabalhadores com baixa qualificação já não seriam mais bem-vindos, pois passariam a disputar diretamente os postos de trabalho com parte da população local, gerando cada vez mais discriminação e preconceito.
          As reações contra os trabalhadores estrangeiros ainda são pequenas, mas a tendência é aumentar prevê Gabriela Boeing, da Organização para Migração Internacional, em Londres. Tem sido comum em pesquisas ver imigrantes roubam nossos empregos. É mais fácil culpar estrangeiros do que a política econômica. Trabalhos que vinham sendo feitos por imigrantes como serviços domésticos, de limpeza, construção civil, agricultura são cada vez mais disputados. O governo também está tomando medidas para diminuir o número de estrangeiros oferecendo pacote de retorno voluntário, com adiantamento do seguro desemprego.
Na Alemanha, onde imigrantes representam importante parcela da mão-de-obra em vista do envelhecimento da população, a crise aumentará a xenofobia se durar e terá repercussões, crê Udo Ludwing, do Instituto de Pesquisa Econômica de Halle.

XENOFOBIA NA ALEMANHA NOS DIAS ATUAIS

Um relatório apresentado em Berlim e que compõe a segunda parte de um estudo iniciado em 2006. Na primeira fase, cinco mil alemães acima dos 14 anos foram interrogados sobre suas opiniões a respeito do extremismo de direita. Concluiu-se que um entre cada quatro alemães defendia pontos de vista xenófobos.
Nesta segunda fase, os pesquisadores procuraram estabelecer as raízes dos preconceitos. Para tal, convidaram uma seleção de 150 dos participantes para discussões em grupo. "Queríamos examinar as opiniões dos entrevistados no contexto de suas vidas", explica Decker coordenador das pesquisas.
A conclusão foi surpreendente: a xenofobia está se tornando cada vez mais mainstream na Alemanha. Os participantes do debate expressaram rejeição em relação a estrangeiros "com uma trivialidade preocupante, inclusive pessoas que na primeira enquete não haviam chamado a atenção por atitudes de extrema direita", comentou o psicólogo.
"Foi assustadora para nós a facilidade com que os entrevistados estavam dispostos a trocar a democracia mais modesta em favor de estruturas autoritárias, nas quais supostamente reinassem ordem, tranquilidade e igualdade de chances", comenta Oliver Decker.
Outra revelação chocante é que o problema se encontra no próprio centro da sociedade alemã, contradizendo a teoria de que os celeiros do extremismo de direita se encontrariam nas partes do país afetadas pelo desemprego e a decadência social.
Segundo 37% da população, os imigrantes viriam para a Alemanha "para explorar o Estado de bem-estar"; 39% consideram o país "perigosamente superpovoado de estrangeiros". E 26% gostariam que houvesse "um único partido forte para representar a comunidade alemã".
Ficou ainda claro que a maioria dos participantes só apoia a democracia na medida em que garante a prosperidade pessoal. Caso contrário, passam imediatamente à intolerância. Uma atitude semelhante marcou também a década de 1950 na Alemanha, observaram os pesquisadores da Fundação Friedrich Ebert. Na época, o milagre econômico provou-se um obstáculo à reelaboração do passado nazista.
 Normalmente só se discute sobre isso quando um perigo emergente já se torna tão perceptível que a situação possa vir a piorar. Até então, costuma-se acreditar que esse problema seja coisa passada e que a discriminação nos últimos anos tenha diminuído. Mas a realidade, que novamente confirma o caráter contraditório da existência humana, demonstra que a história não necessariamente ruma numa direção positiva, como se quer acreditar, mas que avanços contrastam com recuos. Ideias que se tinha como fora de moda, absurdas e retrógradas, podem novamente vir a ser atuais e modernas. Isso significa que as ideais não morrem pelo simples decurso do tempo e que, em conformidade com o espírito de uma época, podem retornar.
Na Alemanha, onde especialmente o antissemitismo marcou a história, impera o silêncio diante do avanço da extrema-direita nos países vizinhos. O NPD (Partido Democrático Nacional da Alemanha) que, segundo o atual governo, deveria ser proibido comemora o sucesso da extrema-direita na Europa, especialmente na França e na Holanda. Apesar dos partidos de extrema-direita na Alemanha estar fragmentados e até agora não terem conseguido o mínimo de 5% de votos necessários para ocupar uma vaga no Congresso, eles vislumbram, agora, boas perspectivas para frente.

QUEM SOFRE MAIS COM A XENOFOBIA NA ALEMANHA?

Os principais alvos de preconceito são os turcos e os russos, considerados parasitas e gananciosos. Entretanto, os pesquisadores também identificaram a emergência do que denominaram "racismo cultural": preconceitos contra grupos marginais, tais como os desempregados e os socialmente desprivilegiados. Tal fato revelaria uma forte pressão para corresponder à norma social percebida, e a consequente condenação dos que fracassam neste processo.
Aproximadamente 10% da população alemã são compostas por estrangeiros, dos quais 28% são turcos, os mais atingidos pela discriminação. A discriminação é especialmente visível em demonstrações da extrema-direita e músicas, sendo que estas últimas já criaram um novo mercado: o mercado do rock de direita. Felizmente, ocorrem paralelos a muitas demonstrações nazistas – que já há bastante tempo vem acontecendo, com ódio a imigrantes e resistência contra o governo alemão –, manifestações contrárias de combate a um possível crescimento da xenofobia.
Evidentemente, o avanço da extrema-direita não ocorre por acaso. A crise da economia e do Estado de bem-estar social, associada às rápidas transformações tecnológicas, ocasionou um crescente desemprego e colocou a competitividade a qualquer custo como única alternativa de sobrevivência. Esta conjuntura gera insegurança, ressentimento e violência.
A extrema direita procura enfocar os problemas dos países que afetam diretamente a maioria da população e propõe soluções simples e discriminadoras, mas que exercem um forte poder de atração. É, por exemplo, mais fácil responsabilizar os estrangeiros pelo desemprego, pela criminalidade e pela insegurança, do que entender as complexas razões dos problemas. As soluções apresentadas são, então, também bem simples e conduzem à xenofobia, quando os estrangeiros são tratados como concorrência indesejada.
A Alemanha, por exemplo, continua sem ratificar o Protocolo nº 12 da Convenção Europeia para os Direitos Humanos, que estabelece a proibição geral da discriminação. As autoridades alemãs continuam com objeções na hora de deixar de fazer distinções sobre a base da nacionalidade, por exemplo, em relação aos benefícios sociais cuja aplicação é contrária ao Protocolo nº 12.
Motivações racistas não foram inclusas no Código Penal alemão como circunstância agravante de um crime. Duas iniciativas neste sentido foram bloqueadas em 2008 e em 2012 pelo Conselho Federal da Alemanha. E ainda, segundo uma apreciação do Conselho Europeu, o ódio e a incitação ao ódio desfrutam, na Alemanha, de um “considerável grau de impunidade”, conforme informou a publicação semanal Der Spiegel. Os colégios alemães adverte um informativo da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância, constituem um alarmante criadouro de ódio baseado na etnia e na orientação sexual, sem que exista uma estratégia federal que esclareça sobre esses assuntos e estipule tolerância.
A Lei de Igualdade no Tratamento (AGG) alemã não menciona explicitamente os critérios de língua e nacionalidade como motivo de discriminação passível de punição, brecha normativa que prejudica muitas crianças espanholas nos colégios alemães, onde são discriminados inclusive por parte dos professores e de outros alunos porque, ainda recém-chegados, não sabem falar alemão corretamente.
Segundo dados do informativo “Jovens na Alemanha como responsável e vítimas da violência”, do Ministério do Interior germânico, um em cada sete adolescente alemães, 14,4%, se consideram “muito racistas diante dos estrangeiros”, e 30% responderam “sim” ao serem questionados se há estrangeiros em excesso no país. Essa pesquisa também mostra que 5% dos 44.600 jovens de quinze anos consultados são membros de algum grupo de extrema direita e que 6.4% dos adolescentes homens têm pontos de vista antissemita.
A maior proporção de neonazistas está no leste da Alemanha, antiga região comunista, onde mais dos 14% dos participantes do estudo tendiam a olhar o Holocausto como um fato “não horrível”, enquanto um número similar acreditava que os judeus, por seu comportamento, não foram totalmente inocentes.

A xenofobia (termo derivado do grego – xénos: "estrangeiro"; e phóbos: "medo”) é um dos fenômenos mais presentes na história e também um dos mais característicos de nossa sociedade. Em uma definição mais geral, pode-se dizer que é uma aversão pelo que é diferente, pelo outro, que geralmente nos assusta com sua alteridade. Mas é também um termo usado para denominar um transtorno psiquiátrico que gera um medo excessivo, sem controle algum, ao que é desconhecido – objetos ou pessoas.
Este conceito também se estende, de forma um tanto polêmica, a qualquer discriminação de ordem racial, grupal – em referência a grupos minoritários – ou cultural. Esta acepção causa certa ausência de clareza, pois é assim confundida com preconceitos, e nem todos eles são considerados fobias. 
Ocorre principalmente nos países mais desenvolvidos, onde há maior contingente de imigrantes. Isso devido, basicamente, às diferenças socioculturais existentes entre pessoas de países diferentes e, principalmente, à relação tensa entre os trabalhadores dos países ricos e os estrangeiros, vindos de países mais pobres, que disputam os mesmos postos de trabalho.
Os impulsos migratórios são, geralmente, motivados por questões econômicas: de um lado, ligados a fatores de repulsão de emigrantes (crises econômicas, guerras, conflitos em geral, fome, etc.); e, de outro, a fatores de atração (oportunidades de emprego, sonhos de enriquecimento rápido, melhoria na qualidade de vida, etc.).
Embates sociais e xenofobia crescente marcam o momento da História em países da Ásia, América e Europa. Na Europa, alguns grupos xenófobos são conhecidos entre nós, como os Skinheads, na Inglaterra, e os Neonazistas, na Alemanha. Outros grupos não são tão conhecidos assim, como os Bloc Identitaire (França), Casa Pound (Itália) e English Defence League (Reino Unido).

HISTÓRIA DA XENOFOBIA NA EUROPA E NA ALEMANHA

         A Reconquista Cristã da Península Ibérica, que levou à formação de Portugal em 1147, foi a grande responsável pela primeira tentativa consciente de separação das raças. Foi nesta época que se criou o mito dos aristocratas terem sangue azul. Especialistas afirmam que o conceito de sangue azul era um conceito racista, tendo sido criado como um eufemismo para ser branco, visto que as veias das pessoas muito brancas parecem ser de cor azul.
         Após a “Reconquista” e a expulsão das forças árabes para fora da Península, fez-se aquilo que ficou conhecido por “Limpeza do Sangue”. Numa primeira fase a “Limpeza” consistia em vedar o acesso a alguns dos direitos mais importantes na sociedade aos “Cristãos-novos” (Judeus e Muçulmanos convertidos à força pela Inquisição Católica). Esta “Limpeza” acabou por se fixar mais na raça da pessoa do que na religião dos seus antepassados, visto que para aceder às ordens religiosas e militares era necessário que as pessoas entregassem o comprovativo em como o seu sangue era “limpo” (não eram ou não descendiam de Cristãos-novos).
Esta perseguição aos Judeus feita pela Igreja Católica na Península Ibérica provocou a debandada de uma enorme massa de Judeus para a Europa Central (Holanda, Alemanha, etc.) e fez com que Portugal e Espanha perdessem uma média e alta burguesia culta e empreendedora, o que mudou para sempre a história socioeconómica da Europa e do Mundo.
No Holocausto, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, os nazistas exterminaram aproximadamente seis milhões de judeus. Isso por que acreditavam que os judeus eram uma raça inferior e manchavam o nome da Alemanha de Hitler, e, logo, deveriam ser exterminados.

XENOFOBIA NOS DIAS ATUAIS

Em meados do século 20, os fluxos migratórios internacionais conheceram uma inversão. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), existem cerca de 200 milhões de migrantes no mundo, sendo que 60% deles são pessoas que saíram de países subdesenvolvidos rumo a países desenvolvidos, tendo como principais destinos os Estados Unidos (35 milhões, em 2000), a Europa (56 milhões, em 2000) e o Japão (1,5 milhões, em 1998).
Porém, esse novo fluxo de imigração internacional, acirrado pelas desigualdades entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, deve ser entendido a partir de dois momentos.
O primeiro deles ocorre entre a década de 50 e fins da de 70, quando alguns países da Europa, os Estados Unidos e o Japão estimulavam a imigração, a fim de conseguir mão-de-obra para ocupar as vagas de menor qualificação e baixa remuneração, desprezadas por suas populações locais. Os imigrantes, então, eram bem-vindos, mas controlados. Geralmente, na Europa, chegavam imigrantes vindos de suas colônias (ou ex-colônias); nos Estados Unidos, mexicanos eram convocados a trabalhar no campo através do "bracero program"; e, no Japão, os "dekasseguis" (trabalhadores brasileiros com ascendência japonesa) eram bem recebidos.
Quanto ao segundo momento, da década de 80 em diante, a intensificação do processo de globalização e a ascensão do neoliberalismo trouxe maior pressão à abertura dos mercados e acelerou o desenvolvimento técnico-científico, o que possibilitou maior aceleração da produção e da circulação de mercadorias no mundo - e menor (ou diferenciada) participação do Estado nos assuntos ligados à economia.
Todos esses elementos acabaram permitindo às indústrias dos países ricos que elas migrassem pelo mundo, em busca de novos mercados e de mão-de-obra barata, gerando crescente desemprego e diferenças salariais entre os trabalhadores dos países desenvolvidos.
Desse período em diante, com exceção dos trabalhadores com alto grau de qualificação vindos de países mais pobres (a chamada "fuga de cérebros"), os trabalhadores com baixa qualificação já não seriam mais bem-vindos, pois passariam a disputar diretamente os postos de trabalho com parte da população local, gerando cada vez mais discriminação e preconceito.
          As reações contra os trabalhadores estrangeiros ainda são pequenas, mas a tendência é aumentar prevê Gabriela Boeing, da Organização para Migração Internacional, em Londres. Tem sido comum em pesquisas ver imigrantes roubam nossos empregos. É mais fácil culpar estrangeiros do que a política econômica. Trabalhos que vinham sendo feitos por imigrantes como serviços domésticos, de limpeza, construção civil, agricultura são cada vez mais disputados. O governo também está tomando medidas para diminuir o número de estrangeiros oferecendo pacote de retorno voluntário, com adiantamento do seguro desemprego.
Na Alemanha, onde imigrantes representam importante parcela da mão-de-obra em vista do envelhecimento da população, a crise aumentará a xenofobia se durar e terá repercussões, crê Udo Ludwing, do Instituto de Pesquisa Econômica de Halle.

XENOFOBIA NA ALEMANHA NOS DIAS ATUAIS

O fenômeno da xenofobia está de volta. Ou ele nem sequer foi superado?

Um relatório apresentado em Berlim e que compõe a segunda parte de um estudo iniciado em 2006. Na primeira fase, cinco mil alemães acima dos 14 anos foram interrogados sobre suas opiniões a respeito do extremismo de direita. Concluiu-se que um entre cada quatro alemães defendia pontos de vista xenófobos.
Nesta segunda fase, os pesquisadores procuraram estabelecer as raízes dos preconceitos. Para tal, convidaram uma seleção de 150 dos participantes para discussões em grupo. "Queríamos examinar as opiniões dos entrevistados no contexto de suas vidas", explica Decker coordenador das pesquisas.
A conclusão foi surpreendente: a xenofobia está se tornando cada vez mais mainstream na Alemanha. Os participantes do debate expressaram rejeição em relação a estrangeiros "com uma trivialidade preocupante, inclusive pessoas que na primeira enquete não haviam chamado a atenção por atitudes de extrema direita", comentou o psicólogo.
"Foi assustadora para nós a facilidade com que os entrevistados estavam dispostos a trocar a democracia mais modesta em favor de estruturas autoritárias, nas quais supostamente reinassem ordem, tranquilidade e igualdade de chances", comenta Oliver Decker.
Outra revelação chocante é que o problema se encontra no próprio centro da sociedade alemã, contradizendo a teoria de que os celeiros do extremismo de direita se encontrariam nas partes do país afetadas pelo desemprego e a decadência social.
Segundo 37% da população, os imigrantes viriam para a Alemanha "para explorar o Estado de bem-estar"; 39% consideram o país "perigosamente superpovoado de estrangeiros". E 26% gostariam que houvesse "um único partido forte para representar a comunidade alemã".
Ficou ainda claro que a maioria dos participantes só apoia a democracia na medida em que garante a prosperidade pessoal. Caso contrário, passam imediatamente à intolerância. Uma atitude semelhante marcou também a década de 1950 na Alemanha, observaram os pesquisadores da Fundação Friedrich Ebert. Na época, o milagre econômico provou-se um obstáculo à reelaboração do passado nazista.
 Normalmente só se discute sobre isso quando um perigo emergente já se torna tão perceptível que a situação possa vir a piorar. Até então, costuma-se acreditar que esse problema seja coisa passada e que a discriminação nos últimos anos tenha diminuído. Mas a realidade, que novamente confirma o caráter contraditório da existência humana, demonstra que a história não necessariamente ruma numa direção positiva, como se quer acreditar, mas que avanços contrastam com recuos. Ideias que se tinha como fora de moda, absurdas e retrógradas, podem novamente vir a ser atuais e modernas. Isso significa que as ideais não morrem pelo simples decurso do tempo e que, em conformidade com o espírito de uma época, podem retornar.
Na Alemanha, onde especialmente o antissemitismo marcou a história, impera o silêncio diante do avanço da extrema-direita nos países vizinhos. O NPD (Partido Democrático Nacional da Alemanha) que, segundo o atual governo, deveria ser proibido comemora o sucesso da extrema-direita na Europa, especialmente na França e na Holanda. Apesar dos partidos de extrema-direita na Alemanha estar fragmentados e até agora não terem conseguido o mínimo de 5% de votos necessários para ocupar uma vaga no Congresso, eles vislumbram, agora, boas perspectivas para frente.

QUEM SOFRE MAIS COM A XENOFOBIA NA ALEMANHA?

Os principais alvos de preconceito são os turcos e os russos, considerados parasitas e gananciosos. Entretanto, os pesquisadores também identificaram a emergência do que denominaram "racismo cultural": preconceitos contra grupos marginais, tais como os desempregados e os socialmente desprivilegiados. Tal fato revelaria uma forte pressão para corresponder à norma social percebida, e a consequente condenação dos que fracassam neste processo.
Aproximadamente 10% da população alemã são compostas por estrangeiros, dos quais 28% são turcos, os mais atingidos pela discriminação. A discriminação é especialmente visível em demonstrações da extrema-direita e músicas, sendo que estas últimas já criaram um novo mercado: o mercado do rock de direita. Felizmente, ocorrem paralelos a muitas demonstrações nazistas – que já há bastante tempo vem acontecendo, com ódio a imigrantes e resistência contra o governo alemão –, manifestações contrárias de combate a um possível crescimento da xenofobia.
Evidentemente, o avanço da extrema-direita não ocorre por acaso. A crise da economia e do Estado de bem-estar social, associada às rápidas transformações tecnológicas, ocasionou um crescente desemprego e colocou a competitividade a qualquer custo como única alternativa de sobrevivência. Esta conjuntura gera insegurança, ressentimento e violência.
A extrema direita procura enfocar os problemas dos países que afetam diretamente a maioria da população e propõe soluções simples e discriminadoras, mas que exercem um forte poder de atração. É, por exemplo, mais fácil responsabilizar os estrangeiros pelo desemprego, pela criminalidade e pela insegurança, do que entender as complexas razões dos problemas. As soluções apresentadas são, então, também bem simples e conduzem à xenofobia, quando os estrangeiros são tratados como concorrência indesejada.
A Alemanha, por exemplo, continua sem ratificar o Protocolo nº 12 da Convenção Europeia para os Direitos Humanos, que estabelece a proibição geral da discriminação. As autoridades alemãs continuam com objeções na hora de deixar de fazer distinções sobre a base da nacionalidade, por exemplo, em relação aos benefícios sociais cuja aplicação é contrária ao Protocolo nº 12.
Motivações racistas não foram inclusas no Código Penal alemão como circunstância agravante de um crime. Duas iniciativas neste sentido foram bloqueadas em 2008 e em 2012 pelo Conselho Federal da Alemanha. E ainda, segundo uma apreciação do Conselho Europeu, o ódio e a incitação ao ódio desfrutam, na Alemanha, de um “considerável grau de impunidade”, conforme informou a publicação semanal Der Spiegel. Os colégios alemães adverte um informativo da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância, constituem um alarmante criadouro de ódio baseado na etnia e na orientação sexual, sem que exista uma estratégia federal que esclareça sobre esses assuntos e estipule tolerância.
A Lei de Igualdade no Tratamento (AGG) alemã não menciona explicitamente os critérios de língua e nacionalidade como motivo de discriminação passível de punição, brecha normativa que prejudica muitas crianças espanholas nos colégios alemães, onde são discriminados inclusive por parte dos professores e de outros alunos porque, ainda recém-chegados, não sabem falar alemão corretamente.
Segundo dados do informativo “Jovens na Alemanha como responsável e vítimas da violência”, do Ministério do Interior germânico, um em cada sete adolescente alemães, 14,4%, se consideram “muito racistas diante dos estrangeiros”, e 30% responderam “sim” ao serem questionados se há estrangeiros em excesso no país. Essa pesquisa também mostra que 5% dos 44.600 jovens de quinze anos consultados são membros de algum grupo de extrema direita e que 6.4% dos adolescentes homens têm pontos de vista antissemita.

A maior proporção de neonazistas está no leste da Alemanha, antiga região comunista, onde mais dos 14% dos participantes do estudo tendiam a olhar o Holocausto como um fato “não horrível”, enquanto um número similar acreditava que os judeus, por seu comportamento, não foram totalmente inocentes.

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