quinta-feira, 8 de maio de 2025

RESENHA - SONETOS (Luis de Camões)

 

"De amor escrevo, de amor trato e vivo;

De amor me nasce amar sem ser amado;"


Muito amor e lamentações.

Surpresos por encontrar alguns sonetos realmente bons.

Inclusive neste livro estão os textos mais conhecidos do autor.


 


"Ouçam a longa história de meus males,

E curem sua dor com minha dor;

Que grandes mágoas podem curar mágoas."


Esta é a segunda vez que leio Camões.

A primeira foi em 2014 com o clássico Os Lusíadas, obra prima da língua português e que se mortalizou como um dos maiores épicos da literatura universal.


 


"Transforma-se o amador na cousa amada,

por virtude do muito imaginar;

não tenho, logo, mais que desejar,

pois em mim tenho a parte desejada."


Em sonetos estão os principais textos líricos do autor.

Produção do maior poeta da língua portuguesa, esta reunião de 204 sonetos tenta ser sua coletânea completa de poemas.

São textos antigos, porém a forma como ele falava do amor e dos próprios sofrimentos segue atual.



"Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem (se algum houve) as saudades."


Como Os Lusíadas é mais do estilo épico, essa foi a primeira vez que li Camões e posso dizer que gostei.

Apesar disso, poesia continua não sendo meu estilo literário favorito, ainda mais se tratando de algo escrito a mais de 400 anos atrás.

O rigor da métrica é bem presente em seus sonetos.

Por conta disso, pode ser difícil de ler pelo estilo e o uso de algumas palavras do português antigo.



"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Muda-se o ser, muda-se a confiança

Todo o mundo é composto de mudança

Tomando sempre novas qualidades."


Uma pequena obra que traz os escritos sobre o amor de um dos maiores poetas da língua portuguesa.

Ao lado dele, mês passado li Fernando Pessoa.

Em ambos os casos se trata de publicações póstumas. 

A poesia lírica de Camões foi publicada pela primeira vez em 1595.



"Amor, que gesto humano n'alma escreve,

Vivas faíscas me mostrou um dia

Donde um puro cristal se derretia

Por ente vivas rosas e alva neve"


Pode parecer um livro curtinho, porem recomendo apenas para quem gosta realmente de poesia lírica e textos clássicos.

E claro, um pouco de romance.



"Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer."


Luís de Camões

Páginas: 290

Idioma: português


ALGUNS SONETOS


 


"Transforma-se o amador na cousa amada,

por virtude do muito imaginar;

não tenho, logo, mais que desejar,

pois em mim tenho a parte desejada.


Se nela está minha alma transformada,

que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

pois consigo tal alma está liada."


 


Mas esta linda e pura semideia, que,

como um acidente em seu sujeito,

assi co a alma minha se conforma,


está no pensamento como ideia:

[e] o vivo e puro amor de que sou feito,

como a matéria simples busca a forma."



"Os bons vi sempre passar no mundo graves tormentos;

E, para mais m'espantar,

os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos.


Cuidando alcançar assim o bem tão mal ordenado,

fui mau, mas fui castigado.

Assim, que só para mim anda o mundo concertado."



 


"O tempo acaba o ano, o mês e a hora,

A força, a arte, a manha, a fortaleza;

O tempo acaba a fama e a riqueza,

O tempo o mesmo tempo de si chora;


O tempo busca e acaba o onde mora

Qualquer ingratidão, qualquer dureza;

Mas não pode acabar minha tristeza,

Enquanto não quiserdes vós, Senhora.


O tempo o claro dia torna escuro

E o mais ledo prazer em choro triste;

O tempo, a tempestade em grão bonança.


Mas de abrandar o tempo estou seguro

O peito de diamante, onde consiste

A pena e o prazer desta esperança. "



"Mas,. conquanto não pode haver desgosto

Onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.


Que dia há que n'alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde

Vem não sei como, e doi não sei porquê. "



"enfim, tudo que a rara natureza

com tanta variedade nos oferece,

me está, se não te vejo, magoando.


Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;

sem ti, perpetuamente estou passando,

nas mores alegrias, mor tristeza."


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