UM LUGAR BEM LONGE DAQUI é tudo que
um bom livro tem que ser. É cativante e leitor nenhum consegue passar imune por
suas páginas. Uma narrativa comovente sobre solidão e preconceito.
Kya foi abandonada pela mãe e os
irmãos aos 6 anos de idade. Três anos depois o pai alcoólatra também desaparece
e a menina passa a viver sozinha no pântano. Isolada em uma cabana no meio da
natureza, ela passa a ser chamada de A Garota do Brejo pelos habitantes da
cidade costeira de Barkley Cove.
"Mas a solidão tem uma bússola própria. E ela voltou à praia para procurá-lo no dia seguinte. E no outro." |
A vida de privações pendura por
vários anos, e Kya encontra conforto e refúgio nos animais e plantas do
pântano, se tornando uma expert no assunto. Kya mantém pouco contato com as
pessoas da cidade, ainda assim conhece dois rapazes e em momentos distintos se
apaixona. Os romances duram pouco, e a garota volta à vida solitária longe de
qualquer companhia humana, até que um dia um jovem promissor é encontrado
morto, e os olhos da cidade se voltam para a Garota do Brejo.
Com capítulos que acompanham duas
linhas temporais, a trama mostra o amadurecimento da protagonista, a descoberta
do amor, e uma sucessão de abandonos. O diferencial da narrativa é que a
alternância na linha temporal serve para preparar o leitor para um possível
caso de assassinato, e o mistério é um ponto forte deste livro.
"O que ele tinha aprendido, logo depois do DNA, dos isótopos e dos protozoários, era que não respirava sem ela." |
Um final de deixar os olhos
marejados, um enredo sensível e impactante de como a solidão molda uma pessoa.
Delia Owens é cientista da vida selvagem no continente africano e já publicou
vários livros sobre o assunto, mas WHERE THE CRAWDADS SING é sua primeira obra
de ficção e não decepciona.
No início foi bem difícil acompanhar
a leitura. Além da dificuldade de ler em inglês, o texto traz muitas palavras
sobre a fauna e flora do pântano e muitos dos diálogos são escritos como a
fala dos habitantes das regiões pantanosas da Carolina do Norte, nos anos
50/60.
A solidão ficou maior do que ela era capaz de aguentar. Desejava a voz, a presença, o toque de alguém, porém desejava ainda mais proteger seu coração. |
Muito elogiado pela crítica, em breve
será lançada a adaptação para o cinema dessa história maravilhosa. O elenco já
está escalado e Reese Witherspoon é a responsável pela produção. Ansioso para
revisitar Kya e sua casa no pântano.
2018 – 338 páginas.
CITAÇÕES FAVORITAS
Amor é muito frequente
A resposta para ficar.
Muito raramente o motivo
Para ir.
Eu escrevo essas linhas
E observe você se afastar.
Vamos admitir, muitas vezes o amor não dá
certo. No entanto, mesmo quando falha, conecta você a outras pessoas e, no
final, é tudo o que você tem, as conexões.
Por fim, o medo chegou. De um lugar mais
profundo que o mar. O medo de saber que ficaria sozinha outra vez.
Provavelmente para sempre.
"[...] Um comportamento ilógico para
preencher um vazio não iria preencher muito mais. Quanto se está disposto a
oferecer para vencer a solidão?"
"[...] A vida a havia transformado
numa especialista em esmagar sentimentos até que ficassem de um tamanho
possível de guardar."
"E o amor em si virando
O que quer que fosse antes de começar.
"
"Eu passei anos querendo estar com
outras pessoas. Acreditava de verdade que alguém fosse ficar comigo, que eu
teria amigos e uma família. Que faria parte de um grupo. Só que ninguém ficou.
Nem você nem qualquer pessoa da minha família. Agora eu finalmente aprendi a
lidar com isso e a me proteger."
"[...] Às vezes ela escutava ruídos noturnos que não conhecia ou se assustava com algum relâmpago próximo demais, mas, sempre que titubeava, era a terra que a amparava. Até, por fim, em algum instante que passou despercebido, a dor no coração se esvair para dentro da areia como água. A dor continuou ali, mas no fundo. Kya pousou a mão na terra molhada que respirava e o brejo virou sua mãe.
"Vá o mais longe que puder, para um lugar bem longe daqui, lá onde cantam os lagostins. |
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