segunda-feira, 1 de março de 2021

RESENHA| WHERE THE CRAWDADS SING

 

UM LUGAR BEM LONGE DAQUI é tudo que um bom livro tem que ser. É cativante e leitor nenhum consegue passar imune por suas páginas. Uma narrativa comovente sobre solidão e preconceito.

 

Kya foi abandonada pela mãe e os irmãos aos 6 anos de idade. Três anos depois o pai alcoólatra também desaparece e a menina passa a viver sozinha no pântano. Isolada em uma cabana no meio da natureza, ela passa a ser chamada de A Garota do Brejo pelos habitantes da cidade costeira de Barkley Cove.


"Mas a solidão tem uma bússola própria. E ela voltou à praia para procurá-lo no dia seguinte. E no outro."

 

A vida de privações pendura por vários anos, e Kya encontra conforto e refúgio nos animais e plantas do pântano, se tornando uma expert no assunto. Kya mantém pouco contato com as pessoas da cidade, ainda assim conhece dois rapazes e em momentos distintos se apaixona. Os romances duram pouco, e a garota volta à vida solitária longe de qualquer companhia humana, até que um dia um jovem promissor é encontrado morto, e os olhos da cidade se voltam para a Garota do Brejo.


 

Com capítulos que acompanham duas linhas temporais, a trama mostra o amadurecimento da protagonista, a descoberta do amor, e uma sucessão de abandonos. O diferencial da narrativa é que a alternância na linha temporal serve para preparar o leitor para um possível caso de assassinato, e o mistério é um ponto forte deste livro.


"O que ele tinha aprendido, logo depois do DNA, dos isótopos e dos protozoários, era que não respirava sem ela."

 

Um final de deixar os olhos marejados, um enredo sensível e impactante de como a solidão molda uma pessoa. Delia Owens é cientista da vida selvagem no continente africano e já publicou vários livros sobre o assunto, mas WHERE THE CRAWDADS SING é sua primeira obra de ficção e não decepciona.

 

No início foi bem difícil acompanhar a leitura. Além da dificuldade de ler em inglês, o texto traz muitas palavras sobre a fauna e flora do pântano e muitos dos diálogos são escritos como a fala dos habitantes das regiões pantanosas da Carolina do Norte, nos anos 50/60.


A solidão ficou maior do que ela era capaz de aguentar. Desejava a voz, a presença, o toque de alguém, porém desejava ainda mais proteger seu coração.

 

Muito elogiado pela crítica, em breve será lançada a adaptação para o cinema dessa história maravilhosa. O elenco já está escalado e Reese Witherspoon é a responsável pela produção. Ansioso para revisitar Kya e sua casa no pântano.



2018 – 338 páginas.

 

CITAÇÕES FAVORITAS

 

Amor é muito frequente

A resposta para ficar.

Muito raramente o motivo

Para ir.

Eu escrevo essas linhas

E observe você se afastar.


 

Vamos admitir, muitas vezes o amor não dá certo. No entanto, mesmo quando falha, conecta você a outras pessoas e, no final, é tudo o que você tem, as conexões.

 


Por fim, o medo chegou. De um lugar mais profundo que o mar. O medo de saber que ficaria sozinha outra vez. Provavelmente para sempre.


 

"[...] Um comportamento ilógico para preencher um vazio não iria preencher muito mais. Quanto se está disposto a oferecer para vencer a solidão?"

 


"[...] A vida a havia transformado numa especialista em esmagar sentimentos até que ficassem de um tamanho possível de guardar."

 


"E o amor em si virando

O que quer que fosse antes de começar. "

 


"Eu passei anos querendo estar com outras pessoas. Acreditava de verdade que alguém fosse ficar comigo, que eu teria amigos e uma família. Que faria parte de um grupo. Só que ninguém ficou. Nem você nem qualquer pessoa da minha família. Agora eu finalmente aprendi a lidar com isso e a me proteger."

 


"[...] Às vezes ela escutava ruídos noturnos que não conhecia ou se assustava com algum relâmpago próximo demais, mas, sempre que titubeava, era a terra que a amparava. Até, por fim, em algum instante que passou despercebido, a dor no coração se esvair para dentro da areia como água. A dor continuou ali, mas no fundo. Kya pousou a mão na terra molhada que respirava e o brejo virou sua mãe.


"Vá o mais longe que puder, para um lugar bem longe daqui, lá onde cantam os lagostins.


 


 


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