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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

RESENHA - Felicidade Clandestina - Clarice Lispector



"Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim."

 

Voltando a ler grandes autores e autoras da literatura brasileira e não poderia deixar Clarice de fora!

Reunião de 25 contos, "Felicidade clandestina" é a escrita da Clarice em sua forma mais intimista.

O título do livro é o mesmo do primeiro conto, igualmente narrado na primeira pessoa, é um texto curtinho sobre o solitário prazer da leitura.

O livro é uma leitura relativamente rápida, pois são contos, crônicas e qualquer outro tipo de texto que a Clarice escreveu e eles acharam interessante publicar.


 

"As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito."

 

Li Água Viva e Felicidade Clandestina em um intervalo de tempo bem próximo.

Agora vou dá uma pausa.

Clarice é única e seus livros não são fáceis de ler.

É um pouco pesado, como quando eu li vários livros do Paulo Coelho seguidos.


 

"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente."

 

Desta vez e quando li Água Viva, um extenso poema em prosa, saio com a impressão que não consegui entender tudo o que li.

Muitas das vezes não sei para onde vão, entendo frases, parágrafos, quase nunca o sentido geral.

A mente dessa mulher era peculiar, e seus textos refletem isso.

Na minha opinião não tem como não gostar de Clarice Lispector.

Tem como não entender Clarice Lispector.

E entender também é sentir.

Sentir o que ela tentou dizer.


 

"Ah, está se tornando difícil escrever. Por que sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que. mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz."

 

Vou esperar um pouco para voltar a ler mais uma de suas obras.

Ainda quero ler A Hora é da Estrela, Perto do Coração Selvagem e A Paixão Segundo G.H.

O que eu li?

Laços de Família, dezembro 2015.

Água Viva, setembro 2024.

Felicidade Clandestina, fevereiro 2025.


 

"Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro."

 

Felicidade Clandestina
Ano: 1971

Páginas: 159

SINOPSE


 

Felicidade clandestina foi a quarta das oito coletâneas de contos publicadas em vida por Clarice. Foi lançada em 1971, pela Editora Sabiá, pertencente a seus amigos Fernando Sabino e Rubem Braga, e reúne um total de vinte e cinco contos (escritos em momentos diversos das décadas de 1950 e 1960), entre os quais figuram alguns dos mais emblemáticos exemplos do gênero, tais como: “Felicidade clandestina”; “Amizade sincera”; “O ovo e a galinha”; “Uma história de tanto amor”; “A legião estrangeira”; “Os desastres de Sofia”. Desde o início, Clarice Lispector recusou a escravidão dos gêneros. Escrevia por fragmentos que depois montava. Escrevia aos arrancos, transcrevendo um ditado interior. As estruturas clássicas não faziam parte desse ditado. Seu olhar passava por cima das regras, quase voraz em sua busca da essência. Este livro bem o demonstra. É composto por contos escritos em épocas diversas da vida de Clarice. E por não contos. Muitos deles – como “Felicidade clandestina”, que dá título ao livro – foram publicados no Caderno B do Jornal do Brasil. Como crônicas. Que também não eram crônicas. Convidada em 1967 para escrever no JB, Clarice deparou-se com um fazer literário novo. Logo negou os padrões vigentes: “Vamos falar a verdade: isto aqui não é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas. Não entra em gêneros. Gêneros não me interessam mais. “E “isto” era a mais pura e rica literatura.


 

Citações favoritas


 

"Mãe é: não morrer."

 

"Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? "

 

"Sua coragem é a de, não se conhecendo, no entanto, prosseguir. É fatal não se conhecer, e não se conhecer exige coragem."

 

"Mas se alguém comete a imprudência de parar um instante a mais do que deveria, um pé afunda dentro e fica-se comprometido. Desde esse instante em que também nós nos arriscamos, já não se trata mais de um fato a contar, começam a faltar as palavras que não o trairiam."


 

"Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar."

 

"E foi como se a miopia passasse e ele visse claramente o mundo."

 

"Mas alguma coisa tinha morrido em mim. e, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada."

 

"O amor por eponina: dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era o amor de quem já sofreu por amor."

 

"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."


segunda-feira, 30 de setembro de 2024

RESENHA: Água Viva - Clarice Lispector



“Não quero ter a terrível limitação de quem vive uma vida apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.”

 

Segunda livro que leio dessa mulher e que confusão! O que ela escreve é preciso ter muita sabedoria da vida para entender (não tenho). Acima de tudo é preciso sentir. Nas próprias palavras da autora: "Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca."



"O que estou te escrevendo não é para se ler- é para se ser."

 

Li Laços de Família anos atrás e desde então fiquei fascinado pela forma como Clarice escreve. Se bem que ao escrever um romance ou um conto, que seja linear e narrativo, é bem mais fácil gostar dela.


 

“Nesta densa selva de palavras que envolvem espessamente o que sinto e penso e vivo e transforma tudo o que sou em alguma coisa minha que no entanto fica inteiramente fora de mim. Fico me assistindo pensar.”

 

Mas Água Viva realmente não é literatura de entretenimento, ao menos na minha opinião. É muito denso, complicado, é profundo.  É um texto em forma de divagação, os pensamentos furtivos de uma manhã de domingo, de uma madrugada em claro.


 

"Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade de solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio.''

 

Há muitas pessoas que se identificam com o texto de Clarice, mas para ser sincero, ainda não é o meu caso. Uma frase ou outra eu consigo entender (e sentir), mas no geral ela ainda possua uma forma estranha para mim, e por isso me interesso a mergulhar em seus pensamentos.


 

"Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e aguento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo."

 

É ficção que as vezes se perde com a autora que se torna personagem e vice-versa. Sem dúvidas um dos maiores nomes da Literatura Brasileira.



"Não sei sobre o que estou escrevendo: sou obscura para mim mesma."

 

SINOPSE

Clarice Lispector tinha o hábito de dormir cedo, acordar de madrugada e ficar sentada na sua sala pensando, fumando e ouvindo a Rádio Relógio, acompanhada apenas de seu cachorro, Ulisses. Nesses momentos de solidão, nasceram muitas de suas obras, que, depois, ela escreveria com a máquina de escrever apoiada sobre as pernas. “Escrevo-te sentada junto de uma janela aberta no alto do meu ateliê”, diz ela em determinado trecho do romance Água viva, em que a autora se confunde com a personagem, uma solitária pintora que se lança em infinitas reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, os sonhos e visões, as flores, os estados da alma, a coragem e o medo e, principalmente, a arte da criação, do saber usar as palavras num jogo de sons e silêncios que se combinam, a especialidade da própria Clarice.


 

Água viva, longo texto ficcional em forma de monólogo, foi lançado pela primeira vez em 1973, poucos anos antes da morte de Clarice que, nessa época, já se consagrara como um dos valores mais sólidos da nossa literatura, por seu estilo único, em que a grande preocupação era a busca permanente pela linguagem.



Água viva é um desafio emocionante para quem lê ou relê Clarice Lispector. Traz uma linguagem que não se perde no tempo; ao contrário, é ricamente metafórica, em que coisas, ações e emoções do dia-a-dia se transformam em grandiosas digressões indagadoras sobre o sentido da existência e da vida. Seguindo a linha de características introspectivas de seus livros, Clarice cria uma obra singular, verdadeiro relato íntimo que projeta em flashes, como num caleidoscópio, verdadeiros resumos de estados de espírito em tom de confidência, onde a subjetividade sobrepuja o factual e a narradora é responsável pela cadência do texto.


 

SINOPSE EM INGLÊS

 

In this book Clarice Lispector aims to 'capture the present'. Her direct, confessional and unfiltered meditations on everything from life and time to perfume and sleep are strange and hypnotic in their emotional power and have been a huge influence on many artists and writers, including one Brazilian musician who read it one hundred and eleven times. Despite its apparent spontaneity, this is a masterly work of art, which rearranges language and plays in the gaps between reality and fiction.






CITAÇÕES



"O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas."


"Mas enquanto eu tiver a mim não estarei só."


"Eu não tenho enredo de vida? sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver. E não tenho medo do fracasso. Que o fracasso me aniquile, quero a glória de cair."


"Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não ama. Quanto a mim, assumo minha solidão."


"Antes de me organizar tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me. Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas- nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando que se sabe andar e- milagre- se anda."