segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

O CONTO DA AIA – MARGARET ATWOOD (The handmaid’s tale)

 

Que livro perfeito. Imediatamente adicionado na minha lista de distopias preferidas. Desde que surgiu a série eu queria muito assisti-la, porém não sem antes ler o livro. Pronto, estou livre da minha promessa.

 

O conto da Aia tem o que eu mais gosto em distopias. Esse recorte de um só momento da história daquele universo e não necessariamente ela por inteira. As distopias YA da atualidade sempre mostram algum tipo de herói colocando fim ao sistema. Tem sempre o bem vencendo o mal. Eu prefiro esses finais abertos. E aqui temos um final bem diferente.

  

“Tudo o que as Aias usam é vermelho: como a cor do sangue, que nos define.”

 

O romance é contado em primeira pessoa, o texto oscila entre presente e passado. Algumas cenas são bem pesadas, necessitam de um tempo para serem digeridas, mas fora isso, é uma leitura rápida e interessante. A narrativa é tocante, bem íntima e repleta de momentos reflexivos.

 

“A sanidade é um bem valioso: eu a amealho e guardo escondida, como as pessoas antigamente amealhavam e escondiam dinheiro. Economizo sanidade, de maneira a vir a ter o suficiente quando chegar a hora.”

 

A obra de Margaret Atwood é um dos clássicos que nunca deixam de ganhar reedições. Ele é um livro bem datado, como Fahrenheit 451 no quesito tecnologia ainda falando de disquetes e outras invenções antiquadas. Porém, em seu conteúdo, continua mais atual que nunca. Talvez seja por isso que a série de televisão homônima (The handmaid’s tale, no original e produzida pelo canal de streaming Hulu) faz/fez tanto sucesso.


"Considero todas essas possibilidades ociosamente. Cada uma delas parece ter a mesma medida que todas as outras. Nem uma parece preferível. A fadiga está aqui, em meu corpo, em minhas pernas e olhos. Isso é o que derruba você no final. Fé é apenas uma palavra bordada."

 

Li a tradução em francês e uma coisa que gostei foi o uso do ‘De’ para posse, como no francês. No Brasil ficou igual ao original em inglês, como se fossem nomes, Ofglen, Ofcharles, Ofwayne, Offred. No francês ficou Defred, Deglen etc. E falando em França, como Simone de Beauvoir diria: ‘Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados.’

 


SINOPSE EM PORTUGUÊS

 

A história de O conto da aia passa-se num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes - tudo fora queimado. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado - há as esposas, as marthas, as salvadoras etc. À pobre Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar.



Offred tem 33 anos. Antes, quando seu país ainda se chamava Estados Unidos, ela era casada e tinha uma filha. Mas o novo regime declarou adúlteros todos os segundos casamentos, assim como as uniões realizadas fora da religião oficial do Estado. Era o caso de Offred. Por isso, sua filha lhe foi tomada e doada para adoção, e ela foi tornada aia, sem nunca mais ter notícias de sua família. É uma realidade terrível, mas o ser humano é capaz de se adaptar a tudo. Com esta história, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade, direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro e, principalmente, o presente.

 

SINOPSE EM FRANCÊS

 

Devant la chute drastique de la fécondité, la république de Gilead, récemment fondée par des fanatiques religieux, a réduit au rang d'esclaves sexuelles les quelques femmes encore fertiles. Vêtue de rouge, Defred, «servante écarlate» parmi d'autres, à qui l'on a ôté jusqu'à son nom, met donc son corps au service de son Commandant et de son épouse. Le soir, en regagnant sa chambre à l'austérité monacale, elle songe au temps où les femmes avaient le droit de lire, de travailler... En rejoignant un réseau secret, elle va tout tenter pour recouvrer sa liberté.

 

SINOPSE EM INGLÊS

 

The Republic of Gilead offers Offred only one function: to breed. If she deviates, she will, like dissenters, be hanged at the wall or sent out to die slowly of radiation sickness. But even a repressive state cannot obliterate desire – neither Offred's nor that of the two men on which her future hangs.

Brilliantly conceived and executed, this powerful evocation of twenty-first-century America gives full rein to Margaret Atwood's devastating irony, wit and astute perception.

 

CITAÇÕES FAVORITAS



“Se acontecer de você ser homem, em qualquer tempo no futuro, e tiver chegado até aqui, por favor lembre-se: você nunca será submetido à tentação de sentir que tem de perdoar um homem como uma mulher. É difícil de resistir, acredite.
Mas lembre-se de que o perdão também é um poder. Suplicar por ele é um poder, e recusá-lo ou concedê-lo é um poder, talvez de todos o maior.
Talvez nada disso seja a respeito de controle. Talvez não seja realmente sobre quem pode possuir quem, quem pode fazer o que com quem e sair impune, mesmo que seja até levar à morte. Talvez não seja sobre quem pode se sentar e quem tem de se ajoelhar ou ficar de pé ou se deitar, de pernas arreganhadas. Talvez seja sobre quem pode fazer o que com quem e ser perdoado por isso. Nunca me diga que dá no mesmo. "

 

"Não deixem que os bastardos esmaguem vocês."

 

"Acredito na resistência do mesmo modo que acredito que não pode haver luz sem sombra; ou melhor, não pode haver sombra a menos que também haja luz."

 

"Falhei mais uma vez em satisfazer as expectativas dos outros, que se tornaram minhas próprias expectativas."



"Mãe nenhuma jamais corresponde, completamente, a ideia de uma filha do que a mãe deveria ser, e imagino que isso também seja verdade no sentido inverso."


"Um rato num labirinto está livre para ir a qualquer lugar, desde que permaneça dentro do labirinto."

 

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