Que livro perfeito. Imediatamente adicionado na minha lista de distopias preferidas. Desde que surgiu a série eu queria muito assisti-la, porém não sem antes ler o livro. Pronto, estou livre da minha promessa.
O conto da
Aia tem o que eu mais gosto em distopias. Esse recorte de um só momento da
história daquele universo e não necessariamente ela por inteira. As distopias
YA da atualidade sempre mostram algum tipo de herói colocando fim ao sistema.
Tem sempre o bem vencendo o mal. Eu prefiro esses finais abertos. E aqui temos
um final bem diferente.
“Tudo o que
as Aias usam é vermelho: como a cor do sangue, que nos define.”
O romance é
contado em primeira pessoa, o texto oscila entre presente e passado. Algumas cenas
são bem pesadas, necessitam de um tempo para serem digeridas, mas fora isso, é
uma leitura rápida e interessante. A narrativa é tocante, bem íntima e repleta
de momentos reflexivos.
“A sanidade
é um bem valioso: eu a amealho e guardo escondida, como as pessoas antigamente
amealhavam e escondiam dinheiro. Economizo sanidade, de maneira a vir a ter o
suficiente quando chegar a hora.”
A obra de
Margaret Atwood é um dos clássicos que nunca deixam de ganhar reedições. Ele é um
livro bem datado, como Fahrenheit 451 no quesito tecnologia ainda falando de
disquetes e outras invenções antiquadas. Porém, em seu conteúdo, continua mais
atual que nunca. Talvez seja por isso que a série de televisão homônima (The
handmaid’s tale, no original e produzida pelo canal de streaming Hulu) faz/fez
tanto sucesso.
"Considero todas essas possibilidades ociosamente. Cada uma delas parece
ter a mesma medida que todas as outras. Nem uma parece preferível. A fadiga
está aqui, em meu corpo, em minhas pernas e olhos. Isso é o que derruba você no
final. Fé é apenas uma palavra bordada."
Li a tradução em francês e uma coisa que gostei foi o uso do ‘De’ para posse, como no francês. No Brasil ficou igual ao original em inglês, como se fossem nomes, Ofglen, Ofcharles, Ofwayne, Offred. No francês ficou Defred, Deglen etc. E falando em França, como Simone de Beauvoir diria: ‘Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados.’
SINOPSE EM
PORTUGUÊS
A história de O conto da aia passa-se num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes - tudo fora queimado. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. As mulheres de Gilead não têm direitos. Elas são divididas em categorias, cada qual com uma função muito específica no Estado - há as esposas, as marthas, as salvadoras etc. À pobre Offred coube a categoria de aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar.
Offred tem 33 anos. Antes, quando seu país ainda se chamava Estados Unidos, ela
era casada e tinha uma filha. Mas o novo regime declarou adúlteros todos os
segundos casamentos, assim como as uniões realizadas fora da religião oficial
do Estado. Era o caso de Offred. Por isso, sua filha lhe foi tomada e doada
para adoção, e ela foi tornada aia, sem nunca mais ter notícias de sua família.
É uma realidade terrível, mas o ser humano é capaz de se adaptar a tudo. Com
esta história, Margaret Atwood leva o leitor a refletir sobre liberdade,
direitos civis, poder, a fragilidade do mundo tal qual o conhecemos, o futuro
e, principalmente, o presente.
SINOPSE EM
FRANCÊS
Devant la
chute drastique de la fécondité, la république de Gilead, récemment fondée par
des fanatiques religieux, a réduit au rang d'esclaves sexuelles les quelques
femmes encore fertiles. Vêtue de rouge, Defred, «servante écarlate» parmi
d'autres, à qui l'on a ôté jusqu'à son nom, met donc son corps au service de
son Commandant et de son épouse. Le soir, en regagnant sa chambre à l'austérité
monacale, elle songe au temps où les femmes avaient le droit de lire, de
travailler... En rejoignant un réseau secret, elle va tout tenter pour
recouvrer sa liberté.
SINOPSE EM
INGLÊS
The
Republic of Gilead offers Offred only one function: to breed. If she deviates,
she will, like dissenters, be hanged at the wall or sent out to die slowly of
radiation sickness. But even a repressive state cannot obliterate desire –
neither Offred's nor that of the two men on which her future hangs.
Brilliantly conceived and executed, this powerful evocation of twenty-first-century
America gives full rein to Margaret Atwood's devastating irony, wit and astute
perception.
CITAÇÕES FAVORITAS
“Se acontecer de você ser homem, em qualquer tempo no futuro, e tiver chegado
até aqui, por favor lembre-se: você nunca será submetido à tentação de sentir
que tem de perdoar um homem como uma mulher. É difícil de resistir, acredite.
Mas lembre-se de que o perdão também é um poder. Suplicar por ele é um poder, e
recusá-lo ou concedê-lo é um poder, talvez de todos o maior.
Talvez nada disso seja a respeito de controle. Talvez não seja realmente sobre
quem pode possuir quem, quem pode fazer o que com quem e sair impune, mesmo que
seja até levar à morte. Talvez não seja sobre quem pode se sentar e quem tem de
se ajoelhar ou ficar de pé ou se deitar, de pernas arreganhadas. Talvez seja
sobre quem pode fazer o que com quem e ser perdoado por isso. Nunca me diga que
dá no mesmo. "
"Não
deixem que os bastardos esmaguem vocês."
"Acredito
na resistência do mesmo modo que acredito que não pode haver luz sem sombra; ou
melhor, não pode haver sombra a menos que também haja luz."
"Falhei
mais uma vez em satisfazer as expectativas dos outros, que se tornaram minhas
próprias expectativas."
"Mãe nenhuma jamais corresponde, completamente, a ideia de uma filha do
que a mãe deveria ser, e imagino que isso também seja verdade no sentido
inverso."
"Um rato num labirinto está livre para ir a qualquer lugar, desde que
permaneça dentro do labirinto."
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