quinta-feira, 5 de junho de 2025

RESENHA - FIABE ITALIANE (Italo Calvino)



Livro curtinho com alguns contos tradicionais italianos, ou mais precisamente fábulas italianas, como os contos dos irmãos Grimm ou de Perrault.

Calvino mostra seu talento como excelente autor de contos de fadas, fábulas, anedotas, e textos do folclore italiano.


 

Contém textos bem antigos, surgidos na idade média e transmitidos de geração em geração através da oralidade.

Como podem ver, alguns textos são sem pé nem cabeça.

 

"- Como? Cospe a papa de cevada no meu olho, em mim, filha do Sol, em mim, neta de rei?
- Então você é filha do Sol? - Disse o rei, que estava por perto.
- Sim.
- E é neta de rei?
- Sim.
- E nós achávamos que era uma enjeitada! Agora pode casar com nosso filho.
- Claro que posso!
O filho do rei se curou num instante e casou com a filha do Sol, que daquele dia em diante se tornou uma mulher como todas as outras e não fez mais coisas estranhas."


 


Para compor o livro, o autor, Italo Calvino, fez uma viagem pelo país na busca de cada uma destas histórias transcritas a partir de diferentes dialetos.

O resultado ficou excelente, uma ótima dica de leitura rápida, leve e divertida para crianças e adultos.


 

A edição francesa contém apenas uma parte do trabalho do autor, que terminou com mais de mil paginas e 200 contos.

Imagino que escolheram as melhores, ainda assim, são um pouco repetitivas em certos aspectos, pode ser praticamente a mesma historia narrada de forma a se adaptar a uma região diferente da Itália.


 

Trata-se de uma edição bilíngue, porém, eu li apenas a parte em italiano. Apesar da dificuldade com o idioma, eu consegui entender razoavelmente bem.

 

"Agora que o livro terminou, posso dizer que não foi uma alucinação, uma espécie de doença profissional. Tratou-se de uma confirmação de algo que já sabia desde o início, aquela coisa indefinida à qual me referia antes, aquela única convicção que me arrastava para a viagem entre as fábulas. E penso que seja isto: as fábulas são verdadeiras".


 

SINOPSE EM ITALIANO

 

Italo Calvino ha selezionato questa raccolta dal patrimonio delle 'Fiabe Italiane', da lui recuperato in un'unica opera comprendente la tradizione fiabesca popolare. Le fiabe si rivolgono a bambini grandi e piccoli e offrono uno panorama che passa dalle fiabe-filastrocche ai racconti buffi.


 

SINOPSE EM PORTUGUÊS

 

Em 1956 saía nas edições Einaudi, em Itália, as "Fiabe Italiane", uma obra de cerca de mil páginas, que tinha como objectivo reunir os contos e fábulas das várias regiões italianas, que o escritor Italo Calvino havia compilado, durante dois anos, comparando-os e reescrevendo-os, à semelhança dos irmãos Grimm que, como diz Calvino, não são sózinhos os "autores" dos seus contos, já que o "são também as narradoras e os narradores de cuja boca os Grimm os ouviram, e assim por diante todos os homens e mulheres que transmitiram esses contos de boca em boca sabe-se lá através de quantos séculos".


 

Estes contos e fábulas, "contados por Calvino" com uma linguagem próxima do tom imediato e popular dos dialectos originais tornaram-se assim uma referência como obra de recriação.

 

RESENHA - LARANJA MECÂNICA






"O que dá valor à bondade é a escolha. Se o homem não pode escolher, ele deixa de ser homem."

 

Um clássico das distopias e da ficção científica, que eu vinha deixando para depois há anos.

Publicado pela primeira vez em 1962, e imortalizado 9 anos depois pelo filme de Stanley Kubrick, um marco na cultura pop do século 20. 

É tão reverenciado que Kubrick o considera sua obra-prima.


  


"Então, o que é que vai ser, hein?"

 

Eu também acho que é um excelente livro, apesar do final um pouco controverso, ou inesperado.

Narrado em primeira pessoa, é um texto difícil de engolir.

Extremamente violento, é o retrato de uma sociedade e de um tempo que pode ser o nosso.

Enfim, é perturbador, do tipo que você lê fazendo pequenas pausas...


  


"E aí eu pensei: e se eu tivesse um filho? E se ele fosse como eu? E se fizesse tudo o que eu fiz? [...] Talvez esteja na hora de mudar, de crescer."

 

Livro curto, porém, longe de querer apenas contar uma história, acho que o autor tentou mostrar algo.

Escrito por Anthony Burgess, o romance explora os limites do livre-arbítrio e da violência. 

O autor inclusive criou mais de 200 palavras para um gíria adolescente misturada com russo, ainda mais difícil para mim pois li em francês.


  


“Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si.”

 

Laranja Mecânica 1962, 305 páginas.

Próxima etapa ver o filme de 1971.

Além disso, meus próximos dois clássicos dos universos distópicos serão 1984 e Admirável Novo Mundo.


  


"Nomes de partidos nada significam. A tradição da liberdade significa tudo. As pessoas comuns deixarão isso passar, ah, sim. Elas venderão a liberdade por uma vida mais tranquila."

 

SINOPSE


  


Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma reposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A estranha linguagem utilizada por Alex - soberbamente engendrada pelo autor - empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de "1984", de George Orwell, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, "Laranja Mecânica" é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo.


 

A Laranja Mecânica é a lacerante confissão autobiográfica de Alex, um delinquente juvenil de um futuro não especificado, mas não muito distante, que conta a história dos seus próprios excessos criminosos e da sua "reeducação" na gíria peculiar à sua geração. O leitor não precisará de mais de quinze páginas para dominar e deliciar-se com a expressiva linguagem "nadsat"; depois disso, ele tem diante de si um banquete facilmente digerível de vilania picaresca e sátira social. O livro pode ser lido como uma pura comédia ou horror ou, em nível mais profundo, como uma fábula sobre o bem e o mal e a importância da opção humana. Como diria o próprio Alex: "É uma história horrorshow, que, ou lhe fará esmecar que nem bezúmine ou subir as velhas lágrimas aos seus glazes."

 


CITAÇÕES

 

“Mas a intenção essencial é o verdadeiro pecado. Um homem que não pode escolher deixa de ser um homem".


"Não estamos preocupados com o motivo, com uma ética superior. Estamos preocupados apenas em reduzir o crime..."


 

"Transformar um jovem decente em uma coisa mecânica não deveria, certamente, ser encarado como triunfo para nenhum governo, a não ser aquele que se gabe de sua capacidade de repressão."

 

"Estou falando sério sobre isso com vocês, irmãos. Mas faço o que faço porque gosto de fazer."


"Ele deixa de ser um malfeitor. Ele também deixa de ser uma criatura capaz de escolha moral."