Quando Não Há Memórias, A Liberdade É Apenas Uma Ilusão
Ótimo livro. Uma distopia que faz jus ao gênero.
Apesar de lembrar pouca coisa dos livros anteriores,
não tive dificuldades com o livro 4. É de longe o livro mais adulto e mais
maduro do quarteto. Os anteriores são bem mais voltados para ficção infanto-juvenil.
Lois Lowry escreveu uma saga onde cada volume
pode ser lido separadamente. O próprio volume final é divido em três partes - Antes,
Durante e Depois-, conectando-se com cada livro anterior. É justamente por isso
que acabei relembrando de muita coisa.
Em “Filho”, a protagonista se chama Claire, e
como o título sugere, o romance trata de sua busca pelo filho. Entre todos os
personagens centrais, ela foi a personagem mais bem desenvolvida. Por isso, na
minha opinião o primeiro e último volumes são os melhores.
The Giver (1993) – movie 2014.
Gathering Blue (2000)
Messenger (2004)
Son (2012)
The Giver foi um dos primeiros livros que li em
inglês, lá por meados de 2015. Entendi pouca coisa. Por sorte tinha o filme... Depois
li o volume 2 e 3 em português entre 2015 e 2016. Como ainda não tinha um nível
de leitura em inglês muito afiado, fiquei aguardando a tradução. Infelizmente,
para o último volume, a Arqueiro nunca terminou de traduzir o quarteto. Felizmente
meu nível de leitura em inglês melhorou bastante, a ponto de achar The Son uma
leitura fácil. Sim, pois se trata de um livro infanto-juvenil.
O Doador de Memórias (O Doador de
Memórias #1)
"Não é bom falar daquilo que é
diferente."
Em O doador de memórias, a premiada autora Lois
Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade,
guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor,
desejo ou alegria genuína.
"Como seria possível alguém não
se adaptar? A comunidade era tão meticulosamente organizada, as escolhas eram
feitas com tanto cuidado!"
Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada,
pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente o passado e todas as
lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente.
"São os sentimentos que giram o
mundo. São nossas emoções que nos levam a agir. O que eu sinto é o que me
mantém vivo e me motiva a fazer as coisas."
Um único indivíduo é encarregado de ser o
guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao
mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da
sociedade em momentos difíceis.
"A vida é tão ordenada, tão
previsível, tão indolor. É como eles escolheram."
Aos 12 anos, idade em que toda criança é
designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o
próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento
difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de
que seu mundo nunca mais será o mesmo.
“Nós realmente temos que proteger as
pessoas de escolhas erradas.”
Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco
a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai
se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se
revelar.
A Escolhida (O Doador de Memórias #2)
"'Orgulhe-se de sua dor', sua
mãe sempre lhe dizia. 'Você é mais forte do que aqueles que não sentem dor
alguma.'"
“É quando você dá algo especial para
alguém porque se importa com a pessoa. Algo que ela vai guardar com carinho.
Isso é um presente”
Kira, uma órfã de perna torta, vive em um mundo
onde os fracos são deixados de lado. A partir do momento da morte de sua mãe,
ela teme por seu futuro até que é perdoada pelo Conselho de Guardiões. A razão
é que Kira tem um dom: seus dedos possuem a habilidade de bordar de forma
extraordinária.
"Tremeu levemente de medo. O
temor sempre fizera parte da vida das pessoas. Por causa do medo, elas
construíam abrigos, buscavam comida e plantavam hortas. Pelo mesmo motivo,
armazenavam armas, precavidas."
"Kira não sabia o que o Conselho
dos Guardiões iria decidir. Sabia apenas que, se ficasse ou partisse, se
reconstruísse sua morada ou tivesse de ir para o Campo, estaria sozinha.”
Ela supera a habilidade de sua mãe, e lhe cabe a
tarefa que nenhum outro membro da comunidade pode fazer. Enquanto seu talento a
mantêm viva e traz certos privilégios, ela percebe que está rodeada de
mistérios e segredos, mas ninguém deve saber sua intenção de descobrir a
verdade sobre o mundo.
"Kira compreendeu de repente
que, embora sua porta estivesse destrancada, não era livre de verdade. Sua vida
se limitava àquelas coisas e àquele trabalho. Ela estava perdendo a alegria que
costumava sentir quando as linhas de cores vivas tomavam forma em suas mãos,
quando os bordados vinham a ela e eram só seus. (...) não era aquilo que suas
mãos ou seu coração desejavam fazer."
O Mensageiro (O Doador de Memórias
#3)
“Frequentemente os novos eram
danificados. Eles mancavam em bengalas ou estavam doentes. Às vezes estavam
desfigurados por feridas ou simplesmente porque nasceram assim. Alguns eram
órfãos. Todos eles foram bem recebidos.”
Há seis anos, Matty chegou ao pacato Vilarejo.
Sob os cuidados de Vidente, um cego que tem uma visão especial, ele amadureceu
e se adaptou à nova vida. Agora, espera receber seu nome verdadeiro, que
determinará seu valor ali, como ocorre com todos os habitantes.
"[...] e ele fez com que fosse
importante para mim também: a poesia, a linguagem, a maneira como a usamos para
lembrar como devemos viver a vida..."
Contudo, algo nefasto está se infiltrando no Vilarejo, e os moradores, antes
orgulhosos de receber forasteiros, passam a exigir que as fronteiras sejam
fechadas para se protegerem.
"Entregou-se voluntariamente
[...] E sentiu-se livre."
Por ser um hábil mensageiro, Matty é encarregado de avisar os outros povoados
sobre o bloqueio. Sua missão também tem outro grande objetivo: buscar Kira, a
filha de Vidente, antes que seja tarde demais.
“Quanto a vocês que discordam…têm
todo o direito, como bem sabem. O direito de discordar é uma das liberdades
mais preciosas que temos aqui.”
Ele é o único capaz de viajar pela Floresta, que já provocou algumas mortes. O
problema é que ela também está se tornando um lugar perigoso para o garoto. Mas
muitos dependem de Matty. Então, armado apenas de um poder recém-descoberto,
ainda incompreensível e incontrolável, ele se arriscará a fazer o que talvez
seja sua última viagem.
"Ele havia encontrado o que
procurava. De certo modo, torcia para não encontrar. Sem dúvida, sua vida seria
mais simples se aquele fosse um sapo qualquer, sem nenhuma marca. Mas, como no
fundo já sabia, esse não era o caso. Da mesma forma, tinha consciência de que
tudo iria mudar para ele a partir de então. Seu futuro sofrera uma nova e
secreta reviravolta. A culpa não era do sapo,...."
Filho (O Doador de Memórias #4)
Agora, olhando em volta na cafetaria do Viveiro,
Claire percebeu que todos os funcionários tomavam o comprimido de manhã. E
percebeu que era por isso que a conversa deles era sempre frívola, superficial,
essencialmente sem sentido. Eles eram como as Recipientes que tomavam o
comprimido entre produções... seres sem sentimentos.
Agora via que ela era a única que não tomava um
comprimido diariamente e pensou tratar-se apenas de um engano. A sua desastrosa
experiência e ter-lhe sido retirada a missão foram coisas que aconteceram tão
súbita e surpreendentemente, que ninguém na Unidade de Partos se lembrou de
dar-lhe comprimidos ou de dizer-lhe para tomá-los. Talvez cada funcionário
tivesse pensado que alguém já o tinha feito.
Por isso é que sentia coisas. E era a única! Era
por isso que ansiava pelo seu filho e se derretia sempre que ele agitava a
mãozinha e lhe dizia «adeus», gritando o seu nome numa voz doce e fazendo
aquele sorriso incrível.
Não ia deixar que lhe tirassem esses sentimentos.
Se alguém da autoridade se desse conta do erro, se lhe entregassem os
comprimidos, ela iria fingir. Mas em circunstância alguma iria reprimir os
sentimentos que descobrira. Claire percebeu que preferia morrer a desistir do
amor que sentia pelo seu filho.