"Acenderei as luzes em toda a casa, permanecerei a espera. Sem Marcoré não poderei continuar a viver". Marcoré |
A última lista
com títulos 100% brasileiros é uma mistura de vários momentos da literatura
nacional. Selecionei duas obras do Fernando Sabino: Zélia, uma Paixão, o
romance,segundo o autor, da figura mais surpreendente de nossa vida pública nos últimos tempos.
E o meu queridinho, Encontro Marcado.
Sobre história
do Brasil tem "1962-1963 - A Fuga de João Goulart" uma narrativa dos
anos anteriores ao golpe que deu início a ditadura civil-militar no país. Mais
especificamente sobre a era de autoritarismo tem o relato pessoal de Celso
Lungaretti, o "Náufrago da Utopia".
Dois livros para ler em um único final de semana: Vésperas e Estive em Lisboa e lembrei de você. Este último inclusive ganhou filme em 2015.
Um pouco de
literatura clássica, e apresento "Marcoré", romance de Antônio Olavo
Pereira. A obra foi Prêmio de Romance da Academia Brasileira de Letras. Um bom
exemplo de como o orgulho pode destruir uma família. E também "Boca do
inferno", uma biografia romantizada do famoso poeta Gregório de Matos de
autoria de Ana Miranda.
De autores mais recente tem Amor para quem odeia, da poeta roraimense Eli Macuxi, e aproveitei para acrescentar uma das obras mais conhecidas do Augusto Cury, Colecionador de Lágrimas. O livro também possui uma continuação intitulada "Em Busca do Sentido da Vida".
1: O Encontro
Marcado - Fernando Sabino
Eduardo saiu da
infância de menino prodígio na literatura, de autor precoce para uma juventude
boêmia, cheia de vontade de mudar o mundo e tomado de ideias que foram marcas
de uma geração atormentada pela guerra e desiludida com a política. A vida
adulta chegou e o sonho de ser escritor nunca se realizou. Eduardo passou a ser
o escritor sem livro. O romancista sem romance.
O Encontro Marcado então é a história da busca por si mesmo, de uma razão de
existir. O drama do rapaz que seguindo seu coração deixa a capital mineira para
tentar a vida no Rio de Janeiro. Apesar da ideia inicial, O Encontro Marcado
não é sobre reminiscências do Eduardo lembrando de uma vida mal vivida. É uma
mensagem que mesmo diante da falta de sentido aparente em viver não devemos
desistir.
Fernando Sabino escreve de forma bem simples, e a trama lembra muito o enredo de um filme, aqueles sobre amadurecimento, a passagem dos anos na vida de uma
pessoa comum. O ritmo com que Sabino conta a história é rápido e bem objetivo.
A leitura atrai desde as primeiras linhas.
2: Zélia, uma
Paixão - Fernando Sabino
"Zélia, Uma
Paixão", biografia autorizada de Zélia Cardoso de Mello, Ministra da
Fazenda no governo Collor, com tratamento literário. Os escândalos em sua vida
privada e sua saída do governo foram motivo de grande repercussão entre os
brasileiros, criando clima hostil ao escritor.
3: Estive em
Lisboa e lembrei de você - Luiz Ruffato
Estive em Lisboa
e lembrei de você, é uma narrativa oral, transcrita pelo autor Luiz Ruffato, a
partir do depoimento de um rapaz mineiro que partiu para Portugal em busca de
uma vida melhor no final dos anos 90. O depoimento foi minimamente editado pelo
autor, o que torna o trabalho único, com uma linguagem leve e informal. O texto
é gostoso de ler, e me senti como se estivesse ouvindo o depoimento do próprio
Sérgio Sampaio, protagonista desta aventura. Nessas poucos páginas, o autor
apresenta a vida do Serginho, os motivos que levaram ele a deixar a pátria mãe
e as dificuldades que encontrou em Lisboa tudo em um descontraído e bem
humorado.
Na primeira
parte da história, transcorrida no Brasil, vemos Serginho chafurdando nas
pequenezas da vida interiorana mineira, entre as quais se inclui um malfadado
casamento com uma moça de "ideia fraca" na sequência de uma gravidez
indesejada. A partir daí a vida de Serginho desanda sem apelação: casamento,
emprego e a própria vontade de viver entram em perigoso colapso.
Até que alguém
saca a panaceia redentora: Portugal. Em Lisboa, o passar dos anos será
demarcado com extrema habilidade e sutileza pelo afloramento de uma plêiade de
idiomatismos lusos na prosa interiorana de Serginho, revelando a mão segura e
inventiva de um dos mais bem-sucedidos autores brasileiros contemporâneos.
4: Vésperas -
Adriana Lunardi
Vésperas é um conjunto de contos sobre algumas das maiores escritoras da literatura mundial.
Virginia Woolf -
Dorothy Parker - Ana Cristina César - Colette - Clarice Lispector - Katherine
Mansfield - Sylvia Plath - Zelda Fitzgerald - Júlia da Costa
São 9 contos, um
para cada escritora, onde a autora, Adriana Lunardi, mistura realidade com um
pouco de ficção para narrar os últimos momentos de vida dessas mulheres
brilhantes. Os contos são pequenos, e tratam sobretudo da morte, com um olhar
para a eternidade e como cada uma destas mulheres conseguiu a partir de suas
obras superar o tempo.
"Espero viver sempre às vésperas. E não no dia". Clarice Lispector. |
5: Marcoré -
Antônio Olavo Pereira
O protagonista é
o oficial-maior do cartório da cidade, um homem introspectivo que se vale de
seu privilegiado posto de observação – aonde as notícias sobre nascimentos,
mortes, casamentos e acordos comerciais chegam em primeira mão – para especular
sobre as motivações ocultas das pessoas e refletir sobre a condição humana.
O drama central
da narrativa, no entanto, se desenrola na vida pessoal do oficial-maior, dentro
da casa dos sogros – onde mora –, no convívio com a doce e frágil esposa,
Sílvia, e nas dificuldades de relacionamento com a sogra irascível. A sufocante
rotina familiar acaba sendo quebrada por uma notícia surpreendente que irá
provocar mudanças inesperadas para todos: depois de dez anos de casamento,
Sílvia descobre que está grávida do primeiro filho, Marcoré.
6: Boca do
inferno - Ana Miranda
Salvador, final do século XVII. Um grupo de
conspiradores assassina o alcaide-mor da cidade. O crime desperta a ira de
poderosos e desencadeia uma série de perseguições que vão revelar a
arbitrariedade, a corrupção e a tirania que assolam a Colônia.
Nessa cidade de desmandos e devassidão desenrola-se a
trama de Boca do Inferno, recriação de uma época turbulenta centrada na feroz
luta pelo poder que opôs o governador Antonio de Souza Menezes, o temível Braço
de Prata, à facção liderada por Bernardo Vieira Ravasco, da qual faziam parte o
padre Antonio Vieira e o poeta Gregório de Matos. Ana Miranda trabalha em
filigrana os pontos de contato entre ficção e história, mostrando em todo o seu
vigor a vida de homens e mulheres dilacerados entre o prazer e o pecado, o céu
e o inferno.
7: Amor para
quem odeia - Eli Macuxi
Dando voz ao
"amor que campeia", seu Amor para quem odeia sabe dos paradoxos que, infelizmente,
compõe o quadro caótico da vida contemporânea. Com tudo, a voz lírica impressa
nos poemas não se rende ao quase inevitável pessimismo que nos rodeia em tempos
de amor líquido.
Ao contrário,
aderindo a uma máfia universal, da qual fazem partes nomes como: Dom Diniz,
Guillaume de Lorris, Dante Alighieri, Petrarca, Shakespeare, Camões, Fernando
Pessoa, Florbela Espanca, Pablo Neruda, Drummond, e Vinícius de Morais, só para
citar alguns, Eli Macuxi retoma as várias facetas do amor e, por meio de um
conjunto que mescla memórias, reflexões, impressões, vivencias cotidianas e
expectativas, liricamente, a força contida nessa temática simultaneamente
universal e particular, uma vez que o amor revive em cada ser com formas e
medidas peculiares.
8: Colecionador
de Lágrimas - Augusto Cury
Um professor especialista em nazismo e II Guerra
Mundial, começa a ter insônia e pesadelos, como se estive vivendo as
atrocidades do Nazismo. A partir disso o passado passa a ser vivo para ele. Em
um ponto de desatino, sobe na mesa da sala de aula e diz que os alunos são
parceiros de Hitler. Sua intenção é, na verdade, provocar a sensibilidade e a
curiosidade de seus alunos.
Bem quisto por alguns, mas muito criticado e até
processado por outros, ele é banido da universidade. Mas fica famoso recebendo
diversos convites para conferências enquanto se esconde de um estranho complô
nazista que tenta a todo custo assassiná-lo. Seu reconhecimento como grande historiador faz com que receba um convite de
cientistas alemães, que pesquisam uma máquina complexa, financiada pelas forças
armadas e que usa a teoria da relatividade e da quântica para conseguir viajar
no tempo.
Mas por que ele? O convite então se torna claro: tudo o que os alemães querem é
alguém com competência suficiente para voltar no tempo, matar Hitler e mudar a
história. Apesar de eliminar todo o mal causado por Hitler, conseguiria ele
chegar à infância do ditador e assassiná-lo. Faria ele esta atrocidade?
9: Náufrago da
Utopia - Celso Lungaretti
Celso Lungaretti
era um dos mais jovens dirigentes de uma organização guerrilheira de luta
armada contra a ditadura militar, no final dos anos 60 e início dos 70, quando
foi preso e barbaramente torturado. Acusado de ter delatado seu grupo, passou
34 anos como um renegado, até conseguir provar, há um ano, sua inocência.
Neste livro, ele
relembra as passeatas, a ocupação de faculdades e fábricas, os festivais de
música, as ações armadas dos guerrilheiros, seus conflitos internos, as
trajetórias de personagens como José Dirceu, Geraldo Vandré, Marighela e
Lamarca, reconstituindo, de forma magistral e dolorida, a história de sua
geração - dos jovens estudantes sem experiência militar recrutados para
combater a ditadura pelas armas.
Trata-se de um
livro que reconstitui, numa linguagem crua e ao mesmo tempo dolorida, um dos
períodos mais trágicos de nossa história recente - o período em que os grupos
de esquerda armada de combate à ditadura militar, nos anos 60 e 70, tiveram
seus principais militantes e combatentes presos, mortos em ação ou friamente
executados e passaram a recrutar para suas fileiras jovens estudantes
secundaristas sem maturidade política e sem experiência de combate.
10: 1962-1963 -
A Fuga de João Goulart - Hélio Silva
Volume 18 de uma coletânea sobre "História da
República Brasileira" e os bastidores da política no Brasil. Para assumir
a presidência do país, João Goulart teve que abrir mão do presidencialismo em
um primeiro momento. Tudo isso devido a pressão de militares e a política
intervencionista dos Estados Unidos. Hélio Silva foi um jornalista, historiador
e monge beneditino brasileiro.
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